Is this a dream?

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Elle está dormindo e estamos sentados de frente um pro outro.

Liesel tem os braços cruzados em forma defensiva, a cara de poucos amigos denuncia que talvez não tenha tanta vontade para me ouvir quanto eu gostaria.

- E então? Começa a falar. - um sorriso de lado escapa. - Diga mais das suas mentiras.

Umedeço os lábios.

- Eu estava na prisão. Saí antes por bom comportamento. - despejo de uma vez só, sentindo um grande peso sair de meus ombros. - Não contei antes porque se alguma ameaça em potencial surgisse, seria a oportunidade perfeita para me matar, por isso ninguém soube. Precisava ser um segredo.

Ela olha para baixo.

- Por que não me contou Michael, eu guardaria seu segredo.

- Porque simplesmente não podia, eram cinquenta por cento de chance de dar certo, e se tivesse dado errado você nunca ia saber, não fazia diferença alguma se eu morresse ou não, só importava a segurança de vocês e a garantia de que nada iria impedi-las de seguir em frente.

Um riso incrédulo escapa da boca dela.

- Onde nos seus sonhos, nessa sua cabeça oca, que iríamos seguir em frente sem buscar uma explicação Michael? Eu nunca iria desistir de procurar você.

Lisie se levantou, esbravejando e gesticulando.

- Você já estava tão distante Lisie, nós dois sabemos disso. - admito, fazendo-a corar. - Todas as minhas tentativas de me aproximar de você deram errado, você nunca responde minhas mensagens e, tirando aquela noite, nunca demonstrou interesse em mim.

- Você não entende Michael.

Rolo os olhos.

- Então me faça entender, tenho bolas mas nenhuma é de cristal.

Um olhar risonho encontra o meu, mas ele logo some.

- A gente é tão diferente, tão complicado... - começa ela, me fazendo murchar ainda mais. - E eu tentei de verdade te afastar, conhecer outra pessoa, mas não dá, eu não consigo. Isso tudo me faz sentir que eu desisti de você, mas eu não quero mais cometer esse erro.

Sinto meu coração disparar, buscando tentar me acalmar antes de me precipitar novamente.

- Depois de tudo, eu achei que seria fácil ir embora, que estava livre, mas é uma tortura. Me pego pensando em você o tempo todo, me perguntando se pensa em mim, se está com outra pessoa, se só faz essas coisas por causa da Elle. - sua voz vacila. - É ridículo, você me magoou muito, mas ainda sim não consigo parar de amar você.

Absorvo cada palavra, finalmente tendo a confirmação que tanto quis.

- Chega disso amor, vamos pra casa. - me levanto e busco sua mão. - O nosso lugar é um do lado do outro, com a nossa filha linda, vamos passar uma borracha em tudo que aconteceu, ou fazer terapia, mas por favor volta pra casa comigo.

- E se tentarem ferir nossa filha? Você ainda é perigoso e tem muitos inimigos Michael, eu preciso pensar nela primeiro.

Tento me controlar, eu não poderia deixar essa chance escapar.

- Eu contrato quantos seguranças forem necessários, carro blindado, a porra toda, ninguém vai fazer mal algum a nossa família.

Meu celular começa a tocar e vejo seu olhar vacilante.

Eu sabia que se atendesse ele naquele exato momento seria o fim, ela acharia que eu priorizaria sempre somente os negócios, nunca ela ou Elle. Finjo que não o ouço, me focando somente nela.

- Quem é? - pergunta ela, curiosa.

- É só o Tommy, deve se perguntar onde estou.

Lisie morde os lábios.

- Você deveria estar no baile.

- Não vou pra lugar algum sem vocês. - digo, vendo-a erguer os olhos de forma brilhante. - Não tem jeito, se você não vai eu não vou também.

- Mas aposto que lá vai ser importante. - testa ela.

- Nada é mais importante do que nós.

Um sorriso desponta.

- Acho que podemos tentar.

Seis mês depois.

- Não acho meus brincos. - reclama Lisie, soltando um suspiro exasperado. - Esse vestido está me deixando gorda, Michael.

Ela choraminga, olhando-se no espelho e alisando a barriga.

- Acho que você está perfeita, vou ter que matar alguns malditos hoje. - beijo sua bochecha, colocando a mão por cima da sua. - Fica de olho na sua mamãe carinha, vamos precisar de reforços.

- Não seja uma má influência querido, ele não tem nem idade pra segurar uma arma ainda.

Rimos, vendo Elle fazer bico e se aproximar.

- Solta o meu maninho! - ela tira nossas mãos da barriga de Liesel, ciumenta. - Ele é meu.

No fim das contas, deu tudo certo.

Eu continuo sendo esse cara horrível aos olhos de quem não me conhece e o melhor pai de todos para minhas garotas de ouro. Reforçamos a segurança e todos ficaram surpresos quando voltei do final de semana com a família completa. Polly chorou de emoção, abraçando-as com tanta força que quase fez seus olhos saltarem para fora da cara, Tommy somente sorriu de lado como se soubesse de tudo.

John ficou feliz também, nós tivemos uma pequena luta corporal logo quando ela se foi mas agora estava tudo bem.

- Papai eu não quero ir. - reclama Elle, emburrada.

- A vovó está esperando por você, vai mesmo decepcioná-la? - Lisie a pega no colo sob olhares repreensivos meus. - Ela pediu seu bolo favorito.

Nós chegamos cerca de meia hora depois na festa de aniversário de mamãe.

Era um baile de gala luxuoso, repleto de ricaços e gente do meio. Estava fazendo cinquenta anos e queria uma grande comemoração. Lisie se afastou para conversar com Grace e Linda e eu fiquei com os rapazes, bebendo e fumando. 

Não falávamos nada demais, até que então algumas garotas se aproximaram e começaram a flertar com John e Finn, eventualmente passando para Tommy, Arthur e eu.

- Você deve ser Michael. - uma delas, asiática de cabelos curtos, estende a mão para que eu a beijasse. - Sempre quis conhecê-lo, sua fama é...

Ela não tem tempo de responder.

Uma mão puxa minha calça e me faz olhar para baixo.

- Garotinha, cadê seu pai? - ela se abaixa, um olhar de desdém no rosto.

Me abaixo e pego Elle no colo, ajeitando a barra de seu vestido.

- Papai quero ir no banheiro. - Elle diz, brincando com minha gravata.

Olho a garota, sorrindo da mesma forma como ela.

- Como você ouviu, na verdade eu sou o papai, e minha fama é de alguém que não dorme direito há mais de um ano porque vai trocar fraldas de madrugada. - pisco para ela, saindo dali.

Liesel e eu passamos o resto da noite juntos, dançando de leve e nos divertindo.

Fomos embora quando ela se sentiu cansada e Elle quis dormir, caindo na cama king size todos os três e pegando no sono logo em seguida.

Seria tudo isso um sonho? Algo louco e inusitado?

Michael Gray, pai de dois.

Casado.

Matando gente durante a semana e brincando de pirata aos sábados e domingos.

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