Crimes

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Ri nervosamente.

Ele afrouxa a gravata e só então percebo que usa luvas. De dentro do paletó, uma faca é depositada encima da mesa. Coldres guardavam pistolas bastante ameaçadoras, e aquele olhar me disse que era tudo verdade.

- O que você é? 

Estamos sentados de frente para a lareira, há horas. 

Ele me explica sobre os negócios da família e eu absorvo cada palavra.

- Eu sou formado em direito e contabilidade. Atuo como contador-chefe e também na parte de assessoria jurídica pessoal de nós todos. - de forma descontraída, ele se espreguiça e reclina no sofá, bebendo mais um gole de Whisky. - Isso legalmente.

Temo pelo que virá agora.

- Eu e o John geralmente fazemos a parte suja da participação de tráfico e prostituição. Quando necessário, faço a cobrança da parte de agiotagem, e caso a pessoa não tenha como nos pagar mesmo, então eu a mato.

Fecho os olhos com força, ele era tudo que eu mais odiava no mundo todo.

- Você mata pessoas inocentes?

Uma risada tola escapa dele, e um olhar de descrença também.

- Lisie, veja sua irmã. Ela perdeu todo o dinheiro em um cassino e te ofereceu pra pagar a conta, isso é o seu tipo de pessoa inocente por acaso? - pegando impulso, ele joga o cigarro para dentro da lareira. - Só tem gente podre nisso, sujeira até o pescoço, ninguém bom de verdade vem atrás de nós e é por isso que fazemos esse tipo de coisa.

- Quem são suas prostitutas? 

Ele sabe por que perguntei isso.

- São garotas que entraram no país de forma ilegal e seriam deportadas. Nós não mentimos pra nenhuma delas, oferecemos esse trabalho, um teto, dinheiro e proteção. Muitas acabaram conseguindo legalizar os papéis, nós as registramos como funcionárias do cassino, elas comprovam renda e geralmente vão viver uma vida normal depois.

Ouvir aquilo me deixou aliviada.

Me levanto e vou até a porta, queria pensar sobre tudo aquilo. Sinto que ele corre até mim, pegando na maçaneta ao mesmo tempo que eu.

- Você me odeia agora? 

Tem algo inseguro nele.

- Acho que podemos conversar amanhã sobre isso. - dou um sorriso fraco, deixando-o para trás.

Acomodamos as garotas em duplas por cada quarto, e me pego deitada nessa cama enorme e completamente sozinha. As sombras que a cortina fazia ao tremular com o vento me deixava assustada, era um ambiente não tão claro e nem tão escuro, o que me dava asas à imaginação.

Quando pisquei novamente, estava com a cabeça entre a porta, fazendo cara de envergonhada.

- Será que você pode dormir comigo? 

Ele sorri, levantando-se.

- Medo do escuro?

Dou de ombros, levemente corada. 

Eu sei que é algo besta de se pedir, mas realmente tenho odiado o escuro nesses últimos dias. Toda vez que fecho os olhos só consigo imaginar coisas horríveis acontecendo, e precisava mais do que nunca finalmente ter uma boa noite de sono.

Nos deitamos e continuo acesa, rolando de um lado para o outro.

- Não consegue dormir? - diz ele.

- Não, e não sei o motivo. Estou tão cansada.

Algo surpreendente aconteceu em seguida. 

Michael rolou para perto de mim, me aconchegando em seus braços. Começou a ficar incrivelmente quente então, e eu olho para cima, encontrando seu olhar fixo em mim. Ele se aproximou de forma calma, em um tempo torturante, até que finalmente tocou seus lábios nos meus.

Eu arfei, grudando-me naquele corpo e enroscando os dedos em seu cabelo macio. Seus beijos passam para meu pescoço e voltam para minha boca, explorando tudo com a língua sedenta, sempre buscando aprofundar ainda mais o beijo. Ao precisarmos de ar, ele volta a beijar meu pescoço e a apalpar partes do meu corpo, criando um desejo quase incontrolável em mim.

Quando tentei inverter as posições, ele nos separou de vez, me deixando confusa.

- Só vamos fazer isso quando for a hora certa, eu não vou me aproveitar de você.

Pisco incrédula, nós já havíamos transado antes.

Mas, Lisie, ele é um assassino. Um cara perigoso, mau, frio, que acaba com os sonhos das pessoas e é cheio de problemas até o pescoço. Por que diabos você quer dormir com ele? Bem, tudo isso é verdade, e meu coração acabou de murchar ao se lembrar disso. Como posso me relacionar com alguém que é assim? 

Em meio a um suspiro consternado, ele avança e roça a barba por fazer em meu rosto, rindo.

- Vai ter que esperar, temos tempo, muito tempo. - então se vira, me deixando frustrada. - Só vou te tocar quando você implorar por isso.

Mordo o lábio, pensando que, se é isso que ele quer, é isso que ele terá. 

Veremos quem vai implorar pra quem.

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