Time passes by

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O quarto estava silencioso.

Eu me revirava na cama de um lado ao outro até finalmente decidir sair dela. Tenho tido cada vez mais sonhos com esse casal que eu vejo, e eles se parecem estranhamente reais, quase como se eu os conhecesse.

Caminhei até o espelho e tive a coragem de me encarar depois de uma semana. Meu rosto tinha alguns arranhões sutis aqui e ali, quase desaparecidos. O olho inchado tomou um tom de amarelo doente como as demais partes feridas com maior empenho, e minha boca praticamente havia se recuperado totalmente.

Com uma mão eu acaricio meus cabelos, sentindo ódio de mim mesma. 

Eu me sentia feia, indigna, envergonhada, amedrontada, um verdadeiro pedaço de merda. Me recordo dos toques indesejados, da violência, os rostos felizes com meu sofrimento. Sem me dar conta estou enjoada demais, vomitando na pia como louca, aquilo tudo era intenso demais pra vir de uma vez só.

Lavo o corpo com força e muito sabonete, já dentro da banheira. 

Procuro esfregar cada parte de mim até praticamente esfolar, nunca me sentindo limpa o suficiente. Eu passara a me sentir constantemente suja, e as unhas permaneceram curtas depois de tudo, não suportava me lembrar da terra debaixo daquelas que restaram, o que me fez abdicar daquilo que uma vez cuidei com muito carinho.

Depois desço para tomar café, mesmo não querendo muito.

Aqui e ali, os dias foram se passando cada vez mais rápido, e eu fui ficando mais distante. Michael contratou uma enfermeira para ficar cuidando dos meus curativos quando necessário, me ajudando a trocar de roupa e tomar os remédios ele mesmo.

Apesar das feridas físicas estarem desaparecendo, as marcas da minha alma jamais irão me abandonar.

- Lisie? - chama.

- Desculpe, não estava prestando atenção. - viro, olhando para a pessoa. - Pode repetir?

- Eu disse que gostaria de levá-la para jantar.

Simplesmente não tenho resposta para aquilo, me detendo em um longo olhar desprovido de qualquer emoção.

- Acho melhor não Michael. - pela primeira vez desde que eu chegara ali, olho em seus olhos diretamente, e apesar de não ter intenção alguma de me sentir mal, ainda sim me sinto, o que me obriga a engolir em seco.

Eu estava sentada no canto do sofá, próxima a lareira, uma leve manta cobria parcialmente meu corpo.

- Posso? - pede, apontando para o lugar próximo de mim.

Sinto que meu coração pode explodir agora, de nervosismo ou qualquer outra coisa, tê-lo ali tão perto me causava um sentimento confuso, talvez desconforto, eu não sabia dizer ao certo.

Ainda sim, acabo concordando, me apertando mais no braço da poltrona, ele percebe isso e não faz menção alguma de se aproximar, mantendo uma certa distância.

- Quero muito ver você sorrir outra vez. - sua voz está baixa e em um tom quebrado. - Se soubesse o quanto me arrependo por tê-la deixado ir naquele dia...

Vejo que ele observa o fogo agora, perdido em seus próprios pensamentos, e pouco a pouco seus olhos vão sendo inundados por lágrimas que ele não tinha certeza se queria deixar sair.

- Porra, eu me sinto responsável por tudo que aconteceu. - finalmente acontece, e ele joga as mãos no rosto em sinal de vergonha, fungando baixinho.

"... - Eu não sei mais o que fazer Hannah... - a voz dele se parte. - Apesar de querer acreditar que não, eu me sinto responsável por tudo que aconteceu. "

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