Again?

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Todos me olham de cima.

Arthur atirou em Sierra por trás e Catarina se virou e tentou pegar a arma que deixou cair com o susto enquanto Elle se debatia chorosa em seu colo. 

Eu me arrasto rapidamente até a arma e a pego antes dela, que fica estagnada em seu próprio lugar. 

- De novo nunca mais. 

Dessa vez quem atira sou eu. O corpo dela está indo em direção ao chão mas Arthur foi mais rápido, pegando Elle dos braços mortos de Catarina. Solto a arma, tremendo como uma vara verde. 

Lágrimas caem de meus olhos e o estresse é tão grande que sinto como se fosse ter um colapso nervoso, e provavelmente teria.

- Elle! - chamo, vendo Arthur trazê-la para mim. 

Eles estão vendo Sierra agonizar no chão, Catarina olhava fixamente para o teto. 

Não demorou muito para que agentes chegassem, não foi feita sequer uma pergunta. A enfermeira foi algemada e um saco de cadáver começou a recolher o corpo da irmã de Sierra, que chorava baixinho.

- Eu merecia mais. - resmunga ela, sendo levada pelos policiais. - Você ainda vai ouvir falar de mim, Michael!

John chega mais perto, procurando algum ferimento em mim. 

O sangue de Catarina sujou minha camisola, fazendo-o parecer meu. Mesmo que pouco, serviu para atrair olhares.

- Estou bem, só quero ir embora. - afasto-o, olhando para Michael.

- Vamos pra casa. - diz ele, olhando de forma fixa para nossa filha. 

...

Se passaram alguns dias desde que voltamos para a mansão. 

Há um quarto lindo esperando pelos dias em que Elle dormirá sozinha, e ele tem me dado um tempo para pensar nas coisas, nós não temos nos falado muito desde tudo que aconteceu. 

Eu ainda não compreendia o que tantos policiais faziam lá.

- Como vocês estão? - com batidinhas suaves na porta, Michael entra no quarto.

Ele acaricia as costas de Elle de forma extremamente suave, como se ela fosse feita de vidro. 

Ela deu um sorrisinho dorminhoco de forma instantânea, remexendo-se. Nossos olhares se cruzaram e eu sabia que talvez era a hora de colocar os pingos nos i's. 

Fomos até a varanda e nos sentamos na beirada. 

- Eu voltei com ela porque fiz um acordo com a Interpol. 

Olho para ele com curiosidade, não é segredo algum que Michael morria de medo de ser preso.

- As fotos que você tirou e outras provas que já haviam contra ela foram anexadas em um processo, Sierra era procurada por formação de quadrilha e outros crimes. - diz ele. - Eu troquei a condenação dela por uma pena reduzida pra mim, pra que ela ficasse longe de nós para sempre.

- Como assim, Michael?

Um suspiro.

- Foi um acordo, eu já era investigado por crimes de colarinho branco, então a entreguei em troca de um ano na prisão. Sierra responderá por tráfico humano, assassinato, esse tipo de coisa, a Interpol estava atrás dela faz tempo.

- Não compreendo. - tudo aquilo parecia confuso e abstrato demais na minha cabeça.

- Ela nunca ia nos deixar em paz, então precisava ser tudo ou nada. - sua mão toca a minha, quente. - Eu nunca tive intenção de te magoar, então combinei tudo com minha mãe. Nós precisávamos colocar Sierra atrás das grades, e eu ia fazer isso, mas ficar com você sempre pareceu tão impossível, e quando você estava ali, senti que não conseguiria.

Concordo lentamente, a respiração descompassada. 

- Então aquelas pessoas invadiram a nossa casa e eu soube que o perigo estava mais próximo do que nunca, e você ia me deixar pela última vez. Foi um lembrete difícil, mas serviu pra me recordar de que havia algo mais importante, então eu te afastei de propósito. 

- Acho que não sei se quero ouvir tudo. - confesso, engolindo em seco. 

- Mas você precisa, pra poder confiar em mim.

Olho-o, ciente de que é verdade.

- Foi tudo armado, eu sempre soube onde você estava, aquela casa é minha. - continua ele. - Sierra contratou Hank, mas não sabia que ele trabalhava pra mim também. Ele te vigiava e garantia que não havia nenhuma outra ameaça por perto. Eu precisava ser convincente, então continuava agindo como se você realmente estivesse longe do meu alcance.

Respiro fundo, absorvendo tudo aquilo.

Lágrimas rolam por minha bochecha e eu me sinto tão mal por tudo que aconteceu, mas também sinto que há coisas que o coração não sente necessidade de explicar. 

- Eu sou assim Lisie. - Michael se levanta, ficando de frente pra mim. - Não sou nenhum santo, talvez preste menos do que o mais miserável dos covardes. Não há salvação pra mim porquê eu não a quero. Eu não tenho remorso de nada do que fiz até hoje, posso até ser um monstro, mas pra você... só por você, eu posso ser alguém diferente. Se quiser, é claro.

Não quero ouvir mais nada, me sinto pressionada a dar uma resposta de algo que nem mesmo eu sei o que é.

- Acho que vai ser melhor se nós nos afastarmos, Michael...

O olhar dele se prende ao meu, visivelmente triste.

- Eu compreendo tudo isso, e agradeço o que fez por mim. - tomo fôlego, tentando não me atrapalhar com as palavras. - Mas eu preciso de espaço, nós estamos indo na velocidade da luz e eu não estou pronta pra tudo isso, pelo menos não ainda.

Retorço as mãos, angustiada. 

- Na velocidade da luz?

- Sim, quer dizer, olha pra gente! - arfo. - Nós temos uma filha e tudo é tão confuso, essa coisa de ¨destino¨, Sierra, você... 

Seria isso o certo a se fazer? Todo esse tempo é como se algo nos fizesse sempre encontrar um ao outro, mas se aquilo tudo realmente acabou, quem sou eu sem ele? Essa questão de destino era confusa, não havia um explicação. Se eu chegasse e contasse tudo pra alguém seria simplesmente absurdo, mas sinceramente nem mesmo eu sei se isso é de fato real. Reencarnação? Acho que chamem do que quiser.

Tantas vidas e eu só vivi por Michael, mas agora eu tenho a oportunidade de fazer diferente, eu quero viver por mim e pela minha filha.

- Eu entendo. - diz ele, engolindo em seco. - Só espero que um dia queira me dar uma chance novamente.

- Isso não é um adeus. - falo, tocando sua mão. - É só um até logo, nós podemos tentar nos conhecer antes de continuar dando passos tão importantes de forma precipitada.

Ele não me responde, só sorri de lado, então se vai e eu permaneço ali, calada e só. 

O coração vibrando e até mesmo mais leve, eu não me sinto mais presa ou obrigada a seguir algo que seja lá o que decidiu por nós, agora estamos livres para ver o mundo com outros olhos. 



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