Liesel P.O.V
Aliso a barra do vestido novamente, torcendo um lenço entre as mãos.
Fazia uma semana desde que ele me trancou naquele quarto e finalmente sentir a luz do dia na pele parecia me queimar aos poucos.
Bato na porta receosa, três vezes apenas, e quem me recepciona é John, completamente perplexo ao me ver ali, de olhos fundos e postura vacilante. Era óbvio que medo e um pedido de socorro exalavam de mim, penetrando as paredes enquanto vasculho o ambiente atrás dele, engolindo em seco ao ver Theodora e meu pai vindo em direção à porta.
Quis chorar de alegria e ao mesmo tempo me prendi ao olhar dela. Theo travava o maxilar enquanto caminhava, seus olhos pareciam se incendiar por me verem ali, descrentes de que era eu mesma que estava parada na soleira daquela porta.
O cerrar deles me fez acender um grande alarme de autopreservação, e talvez eu estivesse paranoica demais à essa altura, mas pude jurar que ele disse a verdade.
- Lisie? - John fala, boquiaberto. - Por onde esteve? Nós procuramos você por todos os cantos da cidade.
- É mesmo Liesel, por onde tem andado ultimamente? - Theodora se aproxima, eu finalmente percebo o quanto ela é egoísta e perigosa. - Papai nos fez viajar até esse fim de mundo de novo por causa de você.
Olho por cima do ombro, vendo o homem parado dentro do carro perto do final da esquina. Ele nos observava atentamente, pronto para agir caso eu fizesse alguma gracinha.
- Eu vim pedir para que não me procurem mais.
Nessa hora eu travo, o bolo em minha garganta é do tamanho do mundo e eu quero mais do que tudo desabar em chorar.
As minhas palavras soam pouco convictas e extremamente obrigadas, e eu torcia para que eles não acreditassem em mim.
- Quem está aí? - ouço a voz de Michael, e o mesmo aparece segundos depois. - Lisie?!
Sua voz parece aliviada e assustada ao mesmo tempo, como se eu não passasse de um fantasma de alguém querido que ele acabou de ver.
¨... Ele ainda está aqui, ele ainda pensa em mim.¨
Michael caminha apressado até onde estamos, me abraçando com força, o que me pega de surpresa.
- Onde você se meteu? - o aperto se intensifica e eu retribuo, mesmo sabendo que não deveria, eu o abraço com força e afago suas costas, aspirando seu perfume amadeirado. - Eu quase fiquei louco.
Apesar de não querer fazer isso, forço para que nos separemos, respirando fundo e tentando colocar a melhor cara de felicidade em meu rosto que a circunstância permitia.
- Vim dizer adeus, eu não quero mais que venham atrás de mim.
- Como assim?
Ele soava ofendido e desconfiado.
- Vou embora para bem longe, com o pai dessa criança. - sorrio de forma tão forçada que é como se rasgassem meu rosto com arame farpado. - E quero que não interfiram mais na minha vida, nós estamos bem e felizes.
- Criança? - meu pai se pronuncia pela primeira vez, abismado. - Lisie querida essa não é você, onde está minha doce garotinha?
Vejo o sorriso maldoso de Theodora se formar. Ela se deleitava com a cena, pronta para contribuir de forma venenosa.
- Pare de santificá-la papai, você sabe muito bem que ela se tornou promíscua desde que veio para esse país.
- Me diga que tudo não passa de uma brincadeira minha filha. - eu vejo o quanto ele quer me abraçar e como está decepcionado, e quero gritar aos quatro ventos para que toda verdade venha à tona. Mas só de pensar que eles irão se ferir, me encolho dentro de mim mesma. - Por favor, diga.
- É verdade pai, eu sou uma vagabunda. - rio com escárnio, dirigindo um olhar penetrante para Theodora. - Eu sou escrota, invejosa e faço questão de transar com qualquer cara. - dou de ombros, imitando minha irmã, e eu sei que ela percebe. - Agora engravidei. Prazer, essa sou eu.
Faço um floreio exagerado, cuspindo no chão.
- Me deixem em paz à partir de hoje, porra.
Dou às costas e vou para o carro, abraçando o próprio corpo. Deus, como eu me odeio agora. Eu só quero morrer para que tudo isso acabe de uma vez.
Ao entrar no carro, um sorriso de satisfação e palmas me esperam, junto com meu captor.
- Foi um show e tanto meu amor, eu te parabenizo por isso. - Ezio acaricia minha bochecha e fecho os olhos com força, trincando o maxilar.
- Quero tirar esse bebê agora, por favor.
Outra risada doentia.
- Não há mais motivo pra isso, seremos só nós três agora. - responde ele, dando partida no veículo.
- Mas... você prometeu. - minha voz se aproxima de um sussurro trêmulo.
E como um raio me atingindo veio a compreensão de porque ele se achava no direito de me ter, o motivo de dizer que o filho era dele.
Ezio estava lá naquele dia, ele era o nome que eu não me recordava, o rosto que insistia em permanecer nublado em minha mente. E eu havia caído em sua trama, presa como uma mosca em uma teia.
- Eu prometo muitas coisas meu amor, e não cumpro nenhuma delas. - uma dor infernal me atinge no rosto, me obrigando a levar às mãos ao local dolorido e que começava a verter sangue. - E se me questionar outra vez vai ser pior, me ouviu?
Não consigo responder pois estou chorando baixinho, tentando me recompor do choque que foi ser agredida de surpresa. Tão repentino quanto o primeiro soco, o segundo veio, dessa vez em meu braço, tão forte quanto.
- Me responda quando eu falo com você Liesel!
- S-sim. - soluço, não sabendo qual local apertar primeiro para tentar amenizar a dor.
- Boa garota, minha florzinha. Vamos para casa agora.
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All For Her ✔️
RomanceVocê acredita em amor de outras vidas? Ela se pergunta isso depois de sofrer a maior das atrocidades, ele tenta fingir ser o que não é. A violência resolve tudo. Era isso que Michael Gray pensava até conhecer Liesel, ele nunca quisera ser o bom moço...