( Don't ) Leave me

523 47 27
                                    

Liesel P.O.V

Aliso a barra do vestido novamente, torcendo um lenço entre as mãos.

Fazia uma semana desde que ele me trancou naquele quarto e finalmente sentir a luz do dia na pele parecia me queimar aos poucos.

Bato na porta receosa, três vezes apenas, e quem me recepciona é John, completamente perplexo ao me ver ali, de olhos fundos e postura vacilante. Era óbvio que medo e um pedido de socorro exalavam de mim, penetrando as paredes enquanto vasculho o ambiente atrás dele, engolindo em seco ao ver Theodora e meu pai vindo em direção à porta.

Quis chorar de alegria e ao mesmo tempo me prendi ao olhar dela. Theo travava o maxilar enquanto caminhava, seus olhos pareciam se incendiar por me verem ali, descrentes de que era eu mesma que estava parada na soleira daquela porta. 

O cerrar deles me fez acender um grande alarme de autopreservação, e talvez eu estivesse paranoica demais à essa altura, mas pude jurar que ele disse a verdade.

- Lisie? - John fala, boquiaberto. - Por onde esteve? Nós procuramos você por todos os cantos da cidade.

- É mesmo Liesel, por onde tem andado ultimamente? - Theodora se aproxima, eu finalmente percebo o quanto ela é egoísta e perigosa. - Papai nos fez viajar até esse fim de mundo de novo por causa de você.

Olho por cima do ombro, vendo o homem parado dentro do carro perto do final da esquina. Ele nos observava atentamente, pronto para agir caso eu fizesse alguma gracinha.

- Eu vim pedir para que não me procurem mais. 

Nessa hora eu travo, o bolo em minha garganta é do tamanho do mundo e eu quero mais do que tudo desabar em chorar. 

As minhas palavras soam pouco convictas e extremamente obrigadas, e eu torcia para que eles não acreditassem em mim.

- Quem está aí? - ouço a voz de Michael, e o mesmo aparece segundos depois. - Lisie?!

Sua voz parece aliviada e assustada ao mesmo tempo, como se eu não passasse de um fantasma de alguém querido que ele acabou de ver. 

¨... Ele ainda está aqui, ele ainda pensa em mim.¨

Michael caminha apressado até onde estamos, me abraçando com força, o que me pega de surpresa.

- Onde você se meteu? - o aperto se intensifica e eu retribuo, mesmo sabendo que não deveria, eu o abraço com força e afago suas costas, aspirando seu perfume amadeirado. - Eu quase fiquei louco.

Apesar de não querer fazer isso, forço para que nos separemos, respirando fundo e tentando colocar a melhor cara de felicidade em meu rosto que a circunstância permitia.

- Vim dizer adeus, eu não quero mais que venham atrás de mim.

- Como assim?

Ele soava ofendido e desconfiado.

- Vou embora para bem longe, com o pai dessa criança. - sorrio de forma tão forçada que é como se rasgassem meu rosto com arame farpado. - E quero que não interfiram mais na minha vida, nós estamos bem e felizes.

- Criança? - meu pai se pronuncia pela primeira vez, abismado. - Lisie querida essa não é você, onde está minha doce garotinha? 

Vejo o sorriso maldoso de Theodora se formar. Ela se deleitava com a cena, pronta para contribuir de forma venenosa.

- Pare de santificá-la papai, você sabe muito bem que ela se tornou promíscua desde que veio para esse país. 

- Me diga que tudo não passa de uma brincadeira minha filha. - eu vejo o quanto ele quer me abraçar e como está decepcionado, e quero gritar aos quatro ventos para que toda verdade venha à tona. Mas só de pensar que eles irão se ferir, me encolho dentro de mim mesma. - Por favor, diga.

- É verdade pai, eu sou uma vagabunda. - rio com escárnio, dirigindo um olhar penetrante para Theodora. - Eu sou escrota, invejosa e faço questão de transar com qualquer cara. - dou de ombros, imitando minha irmã, e eu sei que ela percebe. - Agora engravidei. Prazer, essa sou eu.

Faço um floreio exagerado, cuspindo no chão.

- Me deixem em paz à partir de hoje, porra.

Dou às costas e vou para o carro, abraçando o próprio corpo. Deus, como eu me odeio agora. Eu só quero morrer para que tudo isso acabe de uma vez. 

Ao entrar no carro, um sorriso de satisfação e palmas me esperam, junto com meu captor.

- Foi um show e tanto meu amor, eu te parabenizo por isso. - Ezio acaricia minha bochecha e fecho os olhos com força, trincando o maxilar.

- Quero tirar esse bebê agora, por favor. 

Outra risada doentia.

- Não há mais motivo pra isso, seremos só nós três agora. - responde ele, dando partida no veículo. 

- Mas... você prometeu. - minha voz se aproxima de um sussurro trêmulo.

E como um raio me atingindo veio a compreensão de porque ele se achava no direito de me ter, o motivo de dizer que o filho era dele. 

Ezio estava lá naquele dia, ele era o nome que eu não me recordava, o rosto que insistia em permanecer nublado em minha mente. E eu havia caído em sua trama, presa como uma mosca em uma teia.

- Eu prometo muitas coisas meu amor, e não cumpro nenhuma delas. - uma dor infernal me atinge no rosto, me obrigando a levar às mãos ao local dolorido e que começava a verter sangue. - E se me questionar outra vez vai ser pior, me ouviu?

Não consigo responder pois estou chorando baixinho, tentando me recompor do choque que foi ser agredida de surpresa. Tão repentino quanto o primeiro soco, o segundo veio, dessa vez em meu braço, tão forte quanto.

- Me responda quando eu falo com você Liesel!

- S-sim. - soluço, não sabendo qual local apertar primeiro para tentar amenizar a dor.

- Boa garota, minha florzinha. Vamos para casa agora.

All For Her ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora