Great!

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Era coincidência? Aquela pergunta estranha?

Seja como fosse, eu lhe dei as costas sem mesmo respondê-lo, querendo ir para casa com uma velocidade recorde. Mas teve algo que me deteu, ou melhor, que me congelou.

Estagnei uma esquina antes da minha quadra, virando a cabeça para um beco escuro. Aquele lugar era tão familiar, quase como se eu já tivesse passado por ali. Continuo caminhando, agora com mais calma, até perto de onde não consegui mais andar de verdade.

Eu ouvia vozes de homens mexendo com garotas a todo instante, e elas eram terrivelmente semelhantes às dos meus sonhos. Quais eram as chances de tudo aquilo ser somente uma loucura minha? Independente da resposta, eu não fiz aquele caminho, contornando a quadra por outro lado. 

Embora o caminho fosse mais longo, algo me dizia que eu deveria fazê-lo.

Decidida a ignorar tudo aquilo, procuro tentar afastar aqueles pensamentos idiotas de minha cabeça ao me deitar, colocando um filme extremamente chato para que pegasse no sono o quanto antes. 

E graças aos céus foi o que aconteceu.

Mas eram seis da manhã quando acordei afobada novamente, relembrando do que acabara de sonhar.

¨ - Você é tão linda, sabia disso?¨

Um arrepio me percorre. Eu havia novamente tido o mesmo sonho. Será que Michael também tinha essas loucuras? Por isso achava que me conhecia? Bom, não estou disposta a descobrir no momento.

Passo o dia em casa estudando, a fim de me desprender dessa realidade paralela. Pouco depois do almoço o telefone começa a tocar.

- Alô?

- Por que o papai escolheu você?!

Era Theodora.

- Eu sou mais responsável pra isso Theo, nós duas sabemos disso. - começo a roer uma cutícula, estressada com a situação.

Queria tanto gritar com ela até arderem os pulmões.

- Isso é injusto, vocês não acreditam que eu tenho potencial pra nada. 

- Não é essa a questão. - bufo. - Agora você pode gerenciar o restaurante de Berlim e mostrar que você é capaz Theodora, veja isso como uma oportunidade, não é qualquer um que pode chefiar um restaurante desse. 

- Ah vá se foder com esse seu nepotismo de meia tigela Liesel! Nós duas sabemos que eu queria ir embora daqui, mas não - ela debocha, alongando a frase. - , não mesmo, a garota do papai sempre vai brilhar primeiro.

- Você sempre faz isso. - baixo o tom, cansada daquele comportamento. - Sempre menosprezando todos ao seu redor, como se não fossemos dignos de sua presença. Sinceramente Theo, você precisa crescer.

- Não se faça de vítima aqui!

- Vítima? Eu não estou aqui por que quero e sim por que você afundou o papai em dívidas! Sabia disso? - perco as estribeiras, agora estou quase gritando. - Então cresce caralho, se eu fosse ele já tinha te colocado na rua para aprender o que é a vida muito antes disso.

Não dou tempo para que ela responda, simplesmente desligo o telefone na sua cara. E é claro que ela continua ligando sem parar, e envia mensagens metralhando meu celular a cada instante.

Decido sair para caminhar no parque que havia próximo dali. Ao trancar a porta e me virar, dou de cara com MICHAEL saindo do apartamento de frente para o meu.

Faço uma careta pra ele, estranhando aquilo.

- Tá me perseguindo? - ergo uma sobrancelha, cruzando os braços.

Sua expressão é de pura descrença, como se eu me achasse o centro do universo por pensar aquilo.

- Eu moro aqui. - ele balança uma chave bem no meu nariz, sorrindo torto. - Coincidência hein, logo você ser minha vizinha.

Tem um tom de deboche leve escondido naquelas palavras, o que me faz rolar os olhos.

- Realmente, era o sonho da minha vida me mudar pro apartamento de frente ao seu. - dou dois tapinhas em seu ombro, começando a caminhar para o elevador.

Para meu prazer, ele entra logo depois de mim, apertando o botão da garagem.

- Vai pra onde? 

Eu sei que foi só uma pergunta normal, mas torci o nariz só por que foi ele quem a fez.

- Interessa? 

- Você é muito irritante, sabia? 

- É só largar do meu pé. - respondo, bufando.

O olhar que ele me lançou foi mortal, me fazendo lembrar de quem papai me disse que eles eram. Ele usava roupas menos formais do que o habitual, somente uma camisa social e um blazer. 

O cabelo aparentemente precisava ser cortado.

Abaixo a cabeça, com o coração batendo igual um tambor no peito. Parecia que aquela droga de elevador não chegava ao térreo nunca, e eu me envergonho pela forma como agi mais cedo. Os problemas do meu pai iriam se resolver, e nada me dava o direito de ser grosseira com alguém sem motivo.

- Só estou tendo uma semana difícil. - resolvo tentar consertar as coisas. - Desculpe pelo mau humor.

Ele me olha de canto, não parecendo muito disposto a conversar mais.

- Sei. - diz Michael, saindo quando a porta se abre para a garagem. 

Quando as portas estavam quase se fechando, sua mão interrompe, acionando o sensor.

- Vai pra onde? - novamente aquela pergunta.

- Vou ao parque. 

- Quer carona? 

Mordo o lábio, tentada a aceitar.

- Acho melhor não, mas obrigada. 

Toquei seu braço em sinal de agradecimento e tive que arcar com as consequências desse gesto.

Foi instantânea a familiaridade que me percorreu, não consegui me segurar. Quando percebi, estava terminando de afagá-lo. Trocamos olhares constrangidos enquanto eu o largava desesperada, apertando o botão para que a porta do elevador se fechasse o mais rápido possível.

Me recostando no suporte, fecho os olhos e vivencio aquela experiência, recordando de coisas que sei que jamais foram reais.

¨ - E então, amanhã? - ele pede novamente.

Me aproximo e beijo sua bochecha demoradamente.

- Amanhã. - respondo ao me afastar, sumindo por entre os portões.¨

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