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Na manhã seguinte nós dois acordamos entre lençóis bagunçados e tem um clima estranho em mim. 

Eu me sinto alguém diferente depois de ontem. Jamais bebi daquela forma ou me insinuei para um homem de forma tão aberta, geralmente sou da linha tímida, e não sei explicar o que se acendeu em mim ao vê-lo me desejar de forma tão aberta e ao mesmo tempo tão casual.

Me senti... poderosa?

E agora, envergonhada. Afinal de contas, que droga eu pensava? Ele era, tecnicamente, meu chefe caramba. Em uma tentativa de me esgueirar pra fora da cama sem acordá-lo, seu corpo pesado rola pra cima de mim - o que me dá uma agonia absurda, ele é muito pesado - , e me impede de escapar daquela situação.

Aguardo até que se vire novamente, indo pé ante pé para o closet e depois chuveiro. Eu queria estar devidamente vestida para quando tivesse que expulsá-lo da minha vida. 

Enquanto massageio o couro cabeludo o barulho do box se abrindo me faz abrir os olhos, fazendo com que a espuma caísse neles. O motivo? Aquele cachorro folgado estava nu e entrando no chuveiro também.

- Michael, sai daqui! 

Depois de conseguir enxaguar devidamente o rosto e o cabelo, me viro para encarar o Diabo, do peitoral pra cima eu juro, mas o encontro me encarando primeiro.

- Tem certeza?

Engulo em seco, tentando voltar com minha pose de durona. Ele vai se aproximando de mansinho.

- Tenho.

Parado a quase um palmo de distância, e já debaixo da água, um arrepio vindo da janela. Sua mão voa até ela e a fecha, pousando então no piso atrás de mim.

- Não parece.

Seus lábios estão perigosamente próximos dos meus e eu quase sinto o beijo que está prestes a acontecer, as gotas gordas descem por seu rosto, e algumas contrastam com o metal do piercing, criando um efeito magnético. 

Mas parece errado demais.

- Por favor, vai embora. - faço menção de sair do box e sou impedida.

- Vai fingir que não aconteceu?

Dou de ombros de forma suave.

Não é preciso dizer mais nada, ele mesmo desliga o chuveiro e sai, enrolando-se em uma toalha que estava sobre o bacio. Vejo enquanto pega suas coisas e ouço quando bate a porta de entrada, o que significava que havia ido.

É difícil se abrir pra um desconhecido? Eu quero deixar de ser rude com ele mas tem tantas coisas que continuam sem explicação ainda. Foi a primeira noite em que não tive nenhum tipo de sonho estranho, isso faz meu coração bater mais forte. 

Por quê?

Michael P.O.V

Todos os dias eu tenho sonhos estranhos com uma garota que nunca vi na minha vida. 

Neles, nós vivemos mil coisas e em mil épocas diferentes, mas nunca terminamos juntos. Sempre existe alguém para nos separar. Sinto como se fosse algo que preciso desvendar, mas já cansei de procurar por essa pessoa misteriosa, quer dizer... ela pode muito bem nem mesmo existir.

- Desculpem-me, ela está um pouco atrasada. - o homem a nossa frente fala sem jeito, olhando o relógio.

Não foram dois segundos depois disso que ela entrou.

Me endireitei na cadeira e os caras perceberam, eles se entreolharam. Era ela, a garota dos sonhos. Os cabelos ruivos sedosos e longos, os olhos azuis únicos, as sardas discretas, tudo era exatamente igual.

Não consegui de deixar de observá-la todo esse tempo. Mandei mensagem para Tommy e o cutuquei de forma discreta para que ele a lesse. Não foi surpresa alguma quando ela se mudou para Birmingham pouco tempo depois, eu pedi para que ela fosse o pagamento para o acordo. 

Deus, como eu a queria.

Tudo girou ao redor dela depois daquilo, os sonhos cada vez mais lúcidos. Eu tentei ser menos curioso e mais gentil, mas descobri que ela não se parece nada em temperamento como na minha imaginação. A Liesel real é arisca, sempre tem uma resposta na ponta da língua e atitude não lhe falta. 

Só há um pequeno detalhe, ela me afasta. O tempo todo.

É como se eu fosse alho e ela um vampiro, sempre se esgueirando pra longe de mim, sempre querendo manter o máximo de distância possível. Uma noite eu não resisti e fui atrás de minha mãe, ela sempre tinha alguma explicação para tudo.

- Mãe, lembra de quando eu falava sobre sonhar com uma garota o tempo todo? - digo, bebericando o chá que ela me serviu a força.

Seu olhar brilhou, de um jeito sinistro, e ela se sentou ao meu lado.

- Talvez. 

Ajeitando a echarpe florida ela coloca um pouco de chá para si mesma, cruzando as pernas em seguida.

- Ela é real.

Pela primeira vez na vida, Polly Gray se engasgou. 

Ela se lembrava e agora eu tinha certeza absoluta disso.

- Oh merda. - um suspiro exasperado é soltado. - Fique longe dela Michael.  

- Por quê?

- Não acaba bem, nunca acaba.

Largo a xícara, assumindo uma expressão determinada.

- Você precisa me contar mãe, eu sei que você sabe de alguma coisa. - toco seus ombros em forma de súplica. - Por favor.

- Filho, é uma velha história...

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