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Foram duas semanas até me mudar de vez do refúgio, as vezes eu ainda errava o caminho e só me dava conta quando não passava em frente ao Alo, então eu dava meia volta e dirigia para casa, a minha casa.

Nunca achei que ter uma casa fosse motivo de tamanho orgulho, mas não há nada melhor que voltar para casa no fim de um dia exaustivo. Também não achei que ter um namorado pudesse ser algo bom. Para mim, que sequer acreditava em amor, estar vivendo um, era algo extremamente novo.

Justin era um pouco bobo, atrapalhado eu diria. Ele estava fazendo tudo de forma tão… entregue, que as vezes eu me pegava pensando se eu merecia tamanha dedicação. E de repente nos tornamos o casal que se olham com um sorriso íntimo, algo nosso… É complicado de explicar, é difícil falar sobre ele pois eu sempre vou achar que é pouco.

Não sabíamos muito sobre o que era namorar então tentávamos fazer coisas como o Fai e a Kendall ou a Maeve e o Ryan, até a Kylie e Khalil o Christian nós observamos, mas no final, éramos ele e eu, nós dois, do nosso jeito… Desistindo do cinema para transar no carro, queimando o jantar porque ele invadiu o banheiro… Eu sei, parece que tudo envolve sexo, mas não é só isso. Embora a gente aproveitasse cada canto da casa cada vez que ficavamos sozinhos, ainda fazíamos outras coisas de casal, bom, estávamos tentando, e eu estava cada dia mais apaixonada por ele, o que ainda era difícil para mim, mas eu estava realmente tentando ver aquilo com bons olhos.

Justin já havia encontrado uma casa, Patrícia o ajudou bastante, então o refúgio voltou a ser somente o refúgio. E embora a casa que ele escolheu fosse linda e aconchegante, Maia e eu estávamos cada vez mais próximas e ela já fazia parte da minha vida, da minha rotina, então passava boa parte do tempo na minha casa, ela até tinha um quarto ali.

Sim, minha vida estava mudando completamente, era assustadoramente bom. Era bom me sentar com Maeve e conversar sobre coisas normais, sem tanto drama. Era bom ter uma relação de amizade sincera com Fai e Kendall. Era bom ser completamente humana com Chaz, ele merecia tanto uma amizade, como ele era para mim, e retribuir isso sem pensar que eu tinha que me resguardar por medo de aceitar que ter amigos e pessoas com quem se importar era bom. Era bom ter um sobrinho, alguém que era sangue do meu sangue e que gostava de mim independente do que eu era. Peter foi um presentão, talvez o melhor que ganhei tendo o sangue dos Baldwins.

Minha relação com Alaia era estranha. Eu estava feliz vendo ela se libertar da prisão dela. Dando entrada nos papéis do divórcio, enfrentando a Lizzie de frente, deixando de ceder às chantagens do marido e até da minha mãe, que queria recorrer na justiça os bens deixados para o Peter. Comigo ela não mexeu, e foi até bom porque ela encontraria bastante espinhos no caminho.

Parece cruel, eu sei. Mas se tem algo que esse último ano me ensinou, foi que, independente de ser da sua família, de ter o seu sangue, de ser alguém que você ama, não compensa se gastar, não compensa insistir em quem não sente o mesmo por você, em quem não não se importa com você. Lizzie foi uma de minhas maiores lições. Uma de minhas maiores decepções também. Doeu saber que não há nada no mundo que ela ame e se importe mais do que a si mesma, e sinceramente, eu sinto pena, pois eu estive na posição dela, e eu sei como é ruim se sentir sozinha, sentir que tanto faz estar vivo ou não, sentir que não há nada que te faça ficar, que não há nada de bom para você. Eu sei como é sentir o vazio e a solidão que nós mesmos provocamos. Hoje eu me sinto cheia, mas houve um tempo em que tudo era vazio, e tirar a vida de outras pessoas era tudo o que me fazia vibrar, eu sinto tanto por ela. Talvez esse seja o sentimento mais doloroso que eu tenho, o sentimento de que minha mãe está sozinha e que eu não posso fazer nada por ela, pois ela se entregou para o vazio e quando a gente se entrega, não há chances de resgate.

Murder LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora