Os operários de Carnificina
Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!
Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos contorta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!
Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,
- Velho caixão a carregar destroços -
Levando apenas na tumba carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!
Augusto dos Anjos
400 ac.
GréciaPlistarco ainda não conseguia distinguir as cores, as formas e nem se lembrar de como respirava quando Patrícia parecia arrastá-lo da mármore fria com as pequenas mãos quentes. Piscando os olhos, conseguiu enxergar Fidas agonizando no canto de uma das paredes com uma espada longa atravessando seu abdômen. Patrícia olhava para as próprias mãos sujas do sangue de seu velho pai.
Sentia dor, sentia tanta dor que nada poderia ser comparado à aquilo, seus membros pareciam se descolar de seu corpo, os órgãos todos se reviravam dentro de si, ainda tentando andar e não colocar todo seu peso sobre o corpo pequeno da mulher ao seu lado, e mesmo que tentasse, ela o segurava pela cintura com força, usando suas mãos calejadas e músculos dos braços trabalhados para conseguir sustentá-lo como um saco de batatas. Mesmo assim, o loiro se sentia pisando em espinhos sempre que seus pés descalços alcançavam o chão.
O peito dele doía, até um momento em que o ar não entrava mais em seus pulmões, mas bem, do que estava reclamando? Fora criado para aguentar a dor ao limite, e mesmo sem conseguir respirar, com o peito chiando, trêmulo e o corpo implorando para parar, Plistarco viu a mulher ao seu lado que parecia hesitar observando os muitos garotos que moravam no liceu apontarem suas armas para eles. Ela ainda tentava argumentar, mas começou uma grande discussão, a qual ele não ouviu muito, mas percebeu que os garotos começaram a avançar sobre eles.
Alguns eram crianças.
Ele não sabia como ela planejava sair daquela situação carregando-o em estado lastimável em seus ombros, mas também não se importou, nem mesmo ligou por ela estar cuidando dele, até mesmo agradecia. Sentia que estava morrendo, podia sentir os cortes das espadas alheias atingirem várias partes de seu corpo, mas não podia deixar que Patrícia morresse com ele naquele momento.
Ele lutaria por ela, até seu último suspiro, e foi por isso que se banhou em sangue naquele dia, matando quase todos os que Patrícia considerava como irmãos apenas com as mãos e com os dentes, e mesmo com a sede que fechava sua garganta, ele não bebeu sangue naquele momento.
Ele não sabia, mas estava em transformação. Passava pelas dores de seu corpo morrendo e sua alma sendo triturada em milhares e milhares de pedaços enquanto corria com a mulher ao seu lado segurando-o pela cintura. Ele apertou os lábios impedindo a si mesmo de gemer pela dor, reprimindo o grito que começara em seu peito e subia para a garganta, pois lá deveria morrer.
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O Vampiro e o Romani - Livro O1 {CONCLUÍDO}
VampireOrfeo é um vampiro solitário, vaga pela terra há quase dois mil anos apenas com os próprios demônios, quando como em uma luz no fim do túnel, acaba conhecendo um humano enfermo á beira da morte. Sucumbido pelo egoísmo e pela dor de perder sua única...