Capítulo 23. Soterrados

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"Mas chegará o instante em que me darás a mão, não mais por solidão, mas como eu agora: por amor

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"Mas chegará o instante em que me darás a mão,
não mais por solidão, mas como eu agora:
por amor."

Clarice Lispector


Meus dois pés estavam presos ao chão, com as mãos grandes segurando meus tornozelos. No meio onde estavam os ciganos, a terra havia se tornado uma areia movediça, de onde saíam as bestas e puxavam os pés das crianças e adultos.

- Mas que diabos... - Comecei, tentando entender o que estava acontecendo. Olhei para Bóris, com as pernas até os joelhos enterrados, lutando para puxar as pernas. Um Ghoul se aproximava do garoto, rugindo e mostrando as enormes presas amareladas. Em algum lugar, alguém lançava facas nas cabeças dos monstros, o que matou a maioria dos que nos rondavam, porém o maior problema estava debaixo da terra.

A terra começou a envolver minhas botas, e em pânico, vi várias pessoas sufocadas, outras desmembradas com terríveis gritos que o solo abafava. Me senti impotente por não poder fazer nada, por não poder levantar os pés do chão. Levantando as mãos, mexendo os dedos e forçando a barreira do ar, retirei algumas crianças ainda vivas da terra empurrando os grãos de suas narinas e as colocando sobre as árvores, contudo nem todos tiveram a mesma sorte, e foram vários os corpos com peito inchado pela quantidade de terra nos pulmões.

- Quem está aí? - Gritei para a floresta quando apenas os gritos de pavor tomaram conta do ambiente. Não havia ninguém a vista, mas com toda a certeza, pude ouvir passos e murmúrios irritados em alguma briga baixa. - Consigo ouvi-los agora mesmo. Um de vocês está ofegando com um cervo doente, o outro treme como um pinheiro em noite de tempestade!

Em alguns segundos, de uma das árvores em minha frente, quatro vampiros desceram para o galho mais baixo. Uma mulher asiática andou sobre o tronco fino com destreza, se sentado sobre o mesmo. Logo três homens altos e corpulentos surgiram. Um deles parecia se divertir com o que estava acontecendo, mantendo-se equilibrado sobre o galho e com os braços cruzados, uma vez ou outra alisando a longa barba castanha com adereços metálicos e tranças. Os outros dois eram gêmeos, dois homens de pele negra como Cleo, olhos negros e de certa forma, hesitantes.

- Alguém se importaria em me dizer o que está acontecendo aqui? - A terra envolvia minhas pernas com mais afinco, de forma que apertava minha pele. Do modo como a menina asiática me olhava, ela fazia aquilo, batendo os dedos contra a madeira da árvore na mesma sintonia em que a terra pulsava. - Quem são vocês?

- O que está acontecendo, milenar, é que você está sozinho. - Respondeu um dos gêmeos.

- Eu poderia resolver isso rapidamente. - Respondi, puxando minhas pernas da terra sem sucesso a algum, me desesperando com o fato de que a maioria dos ciganos já agonizava debaixo do solo. - Me provoque, e eu deixarei seus corpos em pedaços.

O Vampiro e o Romani - Livro O1  {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora