Capítulo O4 - Furacão

367 56 119
                                    

"Os homens, afinal, vieram me libertar;

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

"Os homens, afinal, vieram me libertar;

Não perguntei por quê, nem quis saber onde;
Enfim, para mim, era tudo a mesma coisa,
Agrilhoado ou livre, igualmente,
Eu aprendera a amar a desesperança"

Lord Byron

Minha alma não queria ser perturbada. Seria bom e até prazeroso permanecer dentro da terra, sem nenhum indivíduo para incomodar a minha nova e amada paz temporária. Mas não havia paz, não havia nada se não os insetos nojentos e rastejantes que passavam por minha pele, ou os incessantes incômodos dos grãos de terra que dançavam abaixo de minhas pálpebras. Paz? Este sentimento naquela época estava escasso dentro de mim, pois não conhecia mais o seu verdadeiro significado. Na verdade, acho que nunca conheci tal coisa.

Levantei primeiro minha mão, sentindo o vento correr para o sul e os pequenos flocos de neve deixando sua presença ao tocar em minha pele suja de terra. Quando certifiquei de que não havia ninguém próximo, puxei meu próprio corpo com todas as forças existentes em meu ser, com todos os milênios acumulados em meu purgatório carnal.

O sol havia acabado de se pôr no horizonte e não havia ninguém no local do cemitério, então apenas andei. Caminhei como um pedinte, ou como alguma alma foragida do submundo, sujo de terra com os cabelos escuros acumulados de poeira e roupas rasgadas. Um perfeito espectro, uma abantesma caminhante em meio a noite fria.

Algum tempo depois, parei em frente ao castelo e tomei forças para entrar. Tudo estava cinza dentro dele, meu piano foi o primeiro que vi, preto e queimado como carvão. Há tempos atrás, Laura passava tanto tempo tocando, que lhe dei o instrumento. Migrei os olhos para minhas pinturas nas paredes, também estavam queimadas e várias caídas ao chão, feitas ao pó.

Ouvi as batidas de um coração, alguém estava dentro do castelo, algum mortal havia tido a audácia de entrar. Rangi os dentes, mostrando as pequenas presas.

James caminhava com os braços atrás do corpo em minha direção. O ignorei e continuei andando, até o outro lado da casa extremamente queimada enquanto o comandante continuava me seguindo, junto com o olhar cortante de um corvo na janela. Não deveria deixá-lo saber a localização de minha cripta, mas não importava, Londres não era mais meu lar.

Na época, não entendi o motivo pelo qual ele me observou, mexendo suas pupilas e estudando todos os movimentos que eu fazia, e também não quis olhar em sua mente, por mais que aquele silêncio e mistério estivessem me deixando mais que furioso, seria perda de tempo. Me acompanhou até a saída enquanto eu segurava a rabeca e o arco como uma espada e um escudo.

Nunca mais encontrei James, assim como nunca mais voltei a Londres depois de todo o pandemônio, mas não antes de rodar toda a cidade a procura de meu querido cigano e de minha cria feroz.

Três semanas depois de rondar todos os lugares ao redor da Inglaterra, fui a França e me instalei em Paris. Mephisto adorava aquele lugar e provavelmente aquela seria a sua estadia definitiva. Rondei minha mente pelas pessoas que ali viviam, mas não encontrei nada além de sentimentos, desejos e esperanças humanas impossíveis. Me arrependi profundamente de não ter devolvido a rabeca de Bóris, pois se ele a tocasse, poderia estar do outro lado do mundo, céu ou inferno, que eu o encontraria.

O Vampiro e o Romani - Livro O1  {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora