Capítulo 11 - Dias de Trevas

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"Dor, saúde dos seres que se fanam,

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"Dor, saúde dos seres que se fanam,

Riqueza da alma, psíquico tesouro,
Alegria das glândulas do choro
De onde todas as lágrimas emanam..

És suprema! Os meus átomos se ufanam
De pertencer-te, oh! Dor, ancoradouro
Dos desgraçados, sol do cérebro, ouro
De que as próprias desgraças se engalanam!

Sou teu amante! Ardo em teu corpo abstrato.
Com os corpúsculos mágicos do tato
Prendo a orquestra de chamas que executas...

E, assim, sem convulsão que me alvorece,
Minha maior ventura é estar de posse
De tuas claridades absolutas!"

Augusto dos Anjos

As paredes do quarto em que eu acabava de despertar eram de tapeçaria dourada, e adornadas por majestosos arabescos negros de vários formatos diferentes. A tinta clara e cintilante refletia as luzes das centenas de velas que iluminavam o local, como se o aposento fosse feito com milhares de moedas de ouro, uma decoração portentosa e rica. Haviam montes de livros que cobriam a cabeceira da cama de madeira maciça juntamente com os quadros, centenas de quadros vivazes revestidos por molduras delicadas, compondo paisagens suntuosas, e explosões de cores que revelavam comidas, florestas, sexo, a personificação da morte e pessoas mortais em suas atividades diárias, como mãos moldando massa de pão.

Me levantei rápido, puxando o tecido de meu novo roupão para cobrir os braços do frio imaginário que sentia. Passei as mãos pela porta, puxando a maçaneta que não se movia. O desespero se apossou de mim quando constatei que meu corpo estava débil ao tentar arrancar a fechadura da porta com minhas habilidades, que se mostravam tão inúteis quanto meus dedos trêmulos. Temi que Mephistófeles estivesse sendo mais uma vez um completo facínora, e fosse ele o motivo de minha permanência naquele quarto.

- Está sendo deselegante, querido. Por que eu o trancaria? - A voz grave partiu de trás de mim. Suspirei antes de virar e observar a figura sentada na cama, folheando um livro qualquer. - Você nem ao menos me cumprimentou.

Levantou seus olhos amendoados, paralisando-me no local. Contrariando minhas expectativas, sorriu de modo adorável, mostrando pequenas covinhas em seu rosto anguloso com a pele que me lembrava as areias do deserto. Os cabelos negros caiam ao lado da cabeça inclinada, segurando o queixo em suas próprias mãos.

Palavras não podem ser ditas sobre o quanto fiquei abrandecido ao averiguar que aquele vampiro não era Mephisto.

- Não foi isso que ouvi falar de você, Domitius. - Voltou a folhear os livros com sua expressão decepcionada. - Disseram-me que era tão culto...

- Sinto muito, Primeiro Ancião. - Falhei no meio da frase. - Não foi essa a minha intenção.

- Não, não me trate com tanta formalidade, querido. - Finalmente deixou o livro na estante e olhou para mim novamente, com seu sorriso que me transmitia paz. - Me chame de Baltazar.

O Vampiro e o Romani - Livro O1  {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora