Capítulo 56. A Dhampir com Ossos de Ferro

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"Os demônios saíram, e foram para os porcos. E logo toda a manada atirou-se monte abaixo para dentro do mar, afogando-se nas águas".

Mateus 5:1-20

Uma grande descarga de relâmpagos brancos estourou de suas mãos para a água, iluminando todo o lugar e me obrigando a fechar os olhos, tapar os ouvidos incomodado pelos gritos da mulher, dos Ghouls, e pelo barulho da carne deles sendo cozida pela água quente ou frita diretamente por aqueles raios brilhantes que saíam das pontas dos dedos dela.

Aquilo durou cerca de vinte minutos até que o local se tornasse um breu novamente. Havia vapor emanando da água fervendo junto com os corpos daqueles ghouls boiando inertes, porém ainda não estavam mortos.

Aquela vampira retirou as mãos da água fervente, sua pele e músculos cozidos se desfazendo dos ossos enquanto engolia os gemidos e rangia os dentes, segurando as lágrimas vermelhas nos olhos cor de âmbar.

Segurei seus pulsos e observei aquela cena horrível.

- Não deve demorar muito para se regenerar. - Sussurrei.

- A regeneração depende de uma boa alimentação com sangue humano, e apenas nos dão sangue humano nas vésperas das lutas. - Ela engoliu o soluço. - Eu vou ficar bem. Me dê algumas horas.

Formei uma ruga entre as sobrancelhas ao vê-la tirar suas mãos das minhas e se virar para o homem com o pé mutilado sendo segurado pelo maior.

- Me... me deixem aqui. - Ele estava de cara feia sussurrando com o vampiro de bigodes, empurrando-o violentamente enquanto insistia em segurá-lo. - Eu não vou mais andar, você sabe o que acontece quando essas coisas nos mordem, não se cura mais. Sou um aleijado inúti. Me deixe aqui.

O maior que tinha a aparência mais velha não estava ouvindo, e calado mesmo sob protestos, tapas e socos, carregou o outro.

Ele parecia ter sido transformado com cerca de cinquenta e poucos anos visto os cabelos grisalhos em sua cabeça. Transformar pessoas mais velhas era um costume raro entre vampiros, a beleza da jovialidade era venerada entre nós desde sempre. Quanto mais jovem fosse o vampiro, mais belo seria ao se tornar imortal.

Bem, aquele vampiro não havia abandonado todas as suas correntes humanas, visto que claramenre agia como alguém mais velho, como uma figura paterna para com aqueles vampiros.

Suspirei parando de pensar, olhando para o vampiro de cabelos pretos e trançados cujos olhos de fênix e semicerrados olhavam tudo com horror sobre o ombro do outro.

- Os ghouls não estão mortos, apenas inertes. - Sussurrei atraindo a atenção deles e desviando os olhos para o monstro maior que não pareceu perceber a algazarra brilhante. Ele continuava pegando pedaços humanos de sua pilha para enfiar na boca. - Aquele também não parece ligar para nós contanto que não precise parar de comer. Vamos embora antes que acabe.

Continuamos a andar mais rápido sobre os cantos altos rentes ás paredes, atentos a qualquer som que aquele ghoul enorme fizesse além daqueles ruídos molhados e de ossos quebrando entre a jugular. Meu coração se apertava imaginando-o se arrastar em nossa direção com a bocarra enorme nos deixando sem saída entre a morte certa em seu estômago, ou naquela água fervida e fétida.


Quando nos afastamos daquele lugar, tudo se abriu em um amplo salão repleto de pilares e colunas brancas com o teto escamado azul celeste e abobadado. Lá eu conseguia sentir uma brisa fresca com cheiro de terra molhada vindo de algum lugar próximo.

O Vampiro e o Romani - Livro O1  {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora