“Você quer um coração? Você não sabe o quão sortudo és por não ter um. Corações nunca serão práticos enquanto não forem feitos para não se partirem”
O Mágico de Oz – L. Frank Baum
Desde muito tempo, eu estava incomodado. Desde o mês inteiro que havíamos passado em Paris e as semanas adicionais.Não por culpa do céu nublado que mesmo cinza, ainda trazia sua luminosidade branca e melancólica, mas ele também tinha sua parte em meu descontentamento.
Uma sensação de ânsia subia minha garganta cada vez mais que aquele cheiro forte de rosas, o cheiro que antes para mim foi um perfume incrível, agora havia se tornado pútrido, o cheiro da morte e do inferno. Passei a odiar rosas, e quando as via reascendo no jardim, arrancava suas flores e as jogava na lareira. Amapola ficou horrorizada quando me viu fazendo tal coisa, e não posso culpá-la, estava mesmo como um louco.
Aquele cheiro me fazia sentir um bolo na garganta, as minhas mãos tremiam, o peito doía e eu desperdiçava o sangue que havia bebido em suor frio, então parei de respirar. Muitas vezes tinha que vomitar para aliviar a sensação, porém ela apenas piorava e eu acabava chorando baixinho em algum cômodo escondido da casa.
O pânico havia se tornado um companheiro, um demônio que me acompanhava aonde quer que eu estivesse indo.
Ele sempre estaria lá enquanto o cheiro de Mephisto não saísse de minhas narinas, do ar que eu respirava, da brisa que vinha dos oceanos e se batia contra minhas janelas, obrigando-me a me esconder por alguns dias em minha cripta. Naquelas semanas que se passavam, o odor estava cada vez mais forte, dolorido em minha garganta.
Os pesadelos haviam se tornado recorrentes, pesadelos grotescos.
Aquela sensação teria de parar, pois eu descobriria a fonte daquele cheiro, e se fosse o próprio Mephisto, o mataria sem pestanejar mesmo que morresse durante o processo.
– Posso apenas dizer uma única coisa: Patético. – Olhei para baixo, limpando os olhos sujos de lágrimas e apertei os meus dedos que tremiam. – Ora, você acaba com nossa reputação quando vem para cá chorar como uma mocinha. O que você é realmente?
A criança estava abaixada me olhando com seus olhos azuis, os cabelos loiros cacheados caíam por seus olhos. A besta estava de volta em minha cabeça.
– Vá embora, me deixe ter apenas um minuto de paz. – Engoli em seco esperando a sensação de pânico ir embora. – Apenas um único minuto.
– Orfeo, você não pode ter paz. Você é totalmente contrário á paz. Você é o caos, a guerra, todas as depravações do mundo vêm de você, seu demoniozinho. – Seus pequenos dedos levantaram minha cabeça. – Você é natural do inferno, o fogo corre em suas veias. Você não tem ideia do que você é, não é?
– Vá embora. – Pedi.
– Essa é a única coisa que sabe dizer? Vá embora, vá embora? – Reclamou falando mais alto. – Um dia você dará atenção às minhas palavras, e eu estarei aqui para ouvi-lo me chamar.
Ele sumiu de minhas vistas quando escutei o ruído da aldrava bater na porta, repetidas e desesperadas batidas na aldrava em formato de coruja.
Limpei os olhos com rapidez, e tentando me recuperar, cheguei tarde á porta, com Sebastian colocando metade do corpo para fora visualizando as duas figuras idênticas e sorridentes vestidas de vermelho e preto.
– O que foi? – Indagou Sebastian irritado por um momento, e tive certeza que ele mandaria os jovens embora dizendo que não queria comprar biscoitos, mas em um gesto de sobrancelha, até mesmo eu atrás dele, percebi que se tratavam de dois vampiros. – Oh, bem... O que querem?
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Vampiro e o Romani - Livro O1 {CONCLUÍDO}
VampirOrfeo é um vampiro solitário, vaga pela terra há quase dois mil anos apenas com os próprios demônios, quando como em uma luz no fim do túnel, acaba conhecendo um humano enfermo á beira da morte. Sucumbido pelo egoísmo e pela dor de perder sua única...