"'Por que sempre fica sentado aqui sozinho?’
Disse Alice.
‘Ora, porque não há ninguém para ficar aqui comigo!’
Exclamou Humpty Dumpty."
Alice Através do Espelho - Lewis Carrow
Carmilla fingiu estar ocupada na noite seguinte enquanto escrevia, lia e fechava algumas cartas sobre a mesa de jantar. Ela desligou sua lógica para fazer o possível em fingir que não sabia sobre os animais de sua fonte que Bóris havia dizimado.
Ela deixou o garoto sozinho na neve com os peixes enquanto escutava de longe a criança estupidamente humana abrir buracos com as pás de jardinagem e enterrar cada um dos peixes coloridos em seus devidos túmulos.
Bóris voltou para dentro com as mãos sujas de terra e de neve, as pontas dos dedos vermelhas por causa do gelo. Ele olhou para Carmilla falsamente absorta na escrita de suas cartas, ainda se perguntando o motivo daquela mulher estar ali por dois dias seguidos sem motivo algum.
- O que é que você está olhando? – Carmilla perguntou irritada sem levantar os olhos.
Bóris estava olhando para Carmilla e pensando em uma desculpa para dar sobre os peixes mortos e sobre a fonte que agora estava vazia antes que ela visse com os próprios olhos.
Ele engoliu em seco e umedeceu os lábios enquanto coçava a nuca livre com os cabelos longos presos em um rabo de cavalo mal feito no alto da cabeça. Abriu a boca para falar antes que pudesse se arrepender.
- Eles estão mortos. – Disse Bóris rapidamente, vendo Carmilla ainda calada escrevendo o que quer que fosse com a caligrafia perfeita. – Os... os peixes. Eles estão mortos.
Carmilla suspirou e parou de escrever. Bóris mordeu a língua sem saber exatamente o motivo de estar com o coração tão acelerado em admitir aquilo.
Ele ficou parado esperando a mulher falar algo.
- Não se preocupe com isso, vou comprar outros peixes e posso repovoar aquela fonte, então não tenha um colapso por uma coisa tão pequena como essa.
Bóris abriu a boca e levantou as sobrancelhas, mordendo os lábios e olhou para a janela apertando os punhos.
Ele piscou os olhos com sua cabeça subitamente incomodada e dolorida por conta da claridade das velas de Carmilla, e gemeu apertando as têmporas.
A vampira suspirou, apagando toda a claridade com um sopro de seus pensamentos, deixando apenas a lareira crepitante.
- Você ainda está acumulando ressentimento. Muita energia e pensamentos ruins para um corpo tão pequeno como o seu. - Carmilla derramou a cera vermelha sobre a fechadura triangular do papel e logo apertou o sinete sobre a mancha redonda pouco irregular. - Como uma forma de proteger você, sua parte Lilin compartilhou e aliviou parte de sua dor com aqueles animais, o que acabou apodrecendo a fonte.
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O Vampiro e o Romani - Livro O1 {CONCLUÍDO}
VampirOrfeo é um vampiro solitário, vaga pela terra há quase dois mil anos apenas com os próprios demônios, quando como em uma luz no fim do túnel, acaba conhecendo um humano enfermo á beira da morte. Sucumbido pelo egoísmo e pela dor de perder sua única...