Capítulo 45. Bóris, Tal Como Marcus Brutus

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“Porque o medo mata tudo, Mo lhe dissera um dia, a razão, o coração e até mesmo a fantasia.”


Cornelia Carolina Funke – Coração de Tinta


Bóris naquele momento estava ávido mastigando a pele de meu pescoço abrindo a ferida funda, mordendo e engolindo aquela pequena parte de minha carne, artéria e músculos enquanto também bebia o sangue que jorrava em erupções para dentro e fora de sua boca.

Uma de suas mãos agarrou os cabelos de minha nuca entre os dedos e puxou com brusquidão minha cabeça para trás, enquanto seu braço estava mais apertado á volta de minhas costas, espremendo meu corpo contra o dele e me fazendo sentir cada relevo de sua pele contra mim, como se estivesse bebendo o sumo de uma fruta doce.

Eu tentei empurrá-lo, mas a dor de sua mordida era tamanha que me colocou em torpor, me fazendo pensar se minha inutilidade naquele momento, fosse pelo fato de eu estar no terreno dele, o lugar que ele comandava.

Ele ainda segurando meu cabelo pela raiz entre seus dedos, fazia questão de que eu ouvisse o barulho de sua garganta engolindo meu sangue, me puxando para o chão coberto de grama para baixo dele, afundando sua boca em meu pescoço fazendo a deglutição de minha carne.

Minha mão agarrou os seus fios rubros e os puxei com toda força que pude, empurrando seu peito com minha outra mão livre. Seus braços se apertaram mais ao meu corpo quando percebeu que meu esforço fazia a quantidade de sangue perdido aumentar.

Eu não conseguia afastá-lo.

- Bóris... – Supliquei sentindo seus dentes rasparem contra meus músculos abertos, sua boca com os lábios e hálito que aos poucos se tornavam quentes, quase delicadamente  envolvendo o pomo de adão em meu pescoço prestes a dar outra mordida.

- Hm. – Ele respondeu indiferente.
O medo e a dor fizeram meus olhos queimarem.

– Bóris, eu juro que irei arrancar a sua cabeça!  – Falei entredentes batendo o punho contra seu peito. – Saia agora!

Seu corpo paralisou, a boca aberta prestes a morder o meio de meu pescoço sobre o pomo de adão estava parada e assim ficou por alguns longos segundos.

Aos poucos afastou o rosto de meu pescoço e levantou suas íris rúbeas para observar minha face se contorcendo em uma careta de espanto e dor. Seus olhos foram para a grande ferida em meu pescoço e depois para mim.

Ele tinha os olhos escarlates de rubi surpresos pregados em meu rosto. De sua boca aberta, escorria meu sangue misturado á sua saliva, pingando a substância vermelha sobre seu queixo e em minha clavícula.

Ele engoliu o sangue e lambeu os lábios.

- Strigoi? – Perguntou com a voz grave, sua mão suja de vermelho passando os dedos sobre minha bochecha com força em demasia, deixando três riscos de sangue como se não tivesse a certeza de que eu pudesse mesmo estar ali. – Você é real?

Ele levou a mão até a ferida em meu pescoço, e em um reflexo, bati meu pulso contra seu braço. Com a outra mão, tampei a ferida, sentindo uma pontada quase insuportável quando ele retirou os dados de minha nuca.
Suas mãos sujas de vermelho estavam manchando meus cabelos claros espalhados pela grama abaixo de seus dedos.

O Vampiro e o Romani - Livro O1  {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora