Capítulo 59. Amor e Guerra

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"Talvez esse seja um castigo justo para aqueles que não possuem coração: só perceber isso quando não pode mais voltar atrás."

A menina que roubava livros - Markus Zusak

Amapola se desvencilhou de Jade e Ramón completamente sujos de fuligem e se jogou em meus braços quando nos viu, apertando meu pescoço com os pequenos braços, o cheiro de massa de pão em suas roupas.

- Onde o senhor estava? - Perguntou. - Onde está Bóris? Por que tem tantos Strigois aqui?

Eu ainda estava um pouco atordoado, minha bochecha vermelha e inchada doendo, mas não reprimi um sorriso tranquilizador para a menina, que respondeu com ainda mais desespero.

- Nós precisamos ir embora. - Falei a contragosto, colocando Amapola de pé no chão. Eu sem querer desfiz a trança em forma de coroa que alguém havia feito em sua cabeça enquanto tentei acariciá-la.

- Ir embora? - Perguntou Jade. Zaira estava sentada na poltrona amamentando Melpone, Cléo para meu alívio segurava uma bandeja com chá de camomila para a mulher. - Por que Bóris não está com você?

- Bóris... fez a escolha dele. - Murmurei. Jade caminhou até mim e levantou a sobrancelha. - Bóris não é humano. Bóris é Lilin. Os boatos são... verdadeiros.

Ela abriu a boca como se tivesse tomado banho de água fria, mas não parecia tão surpresa quando continuei falando.

- Bóris não é apenas um Lilin, ele é filho de Lilith, filho direto. Foi... gerado por ela. - Umedeci os lábios acabando de falar.

- Mas onde ele está? - Perguntou novamente.

- Eu-

Os ciganos haviam se juntado na sala, olhei de soslaio para trás onde Carmilla parecia estar trêmula, as veias pretas debaixo de sua pele correndo como cobras quando ela se sentou delicadamente na cadeira da mesa de jantar.

- Esperem alguns minutos. - Falou ela. - Preciso me recuperar para abrir outro portal para sairmos daqui definitivamente.

- Mas vamos sair daqui sem Bóris? - Perguntou Zaira embalando Melpone nos braços e panos quentes. Seus cabelos amarrados no alto da cabeça. - Vamos deixá-lo sozinho sem saber para onde estamos indo?

Engoli em seco olhando para Ramón segurando a besta nas mãos, calado e com o rosto sombrio observando aquela quantidade enorme de vampiros atrás de mim.

Pela primeira vez vi Sebastian, ele caminhava hesitante até mim como se tivesse visto um fantasma. Suas roupas estavam perfeitamente limpas a não ser uma mancha de sangue em seu peito azul, mas não parecia ser dele.

- Baltazar está aqui, não é? - Falou me olhando como se estivesse me conhecendo pela primeira vez. - Ele está abraçado à aquele menino, não quis falar comigo. Ridículo.

- Pare de ser insensível, deixe-o em paz. - Sebastian suspirou.

- Carmilla estava falando com você pelo laço, não estava? Ela não quis me contar nada do que estava acontecendo. - Reclamou. - Você também saiu louco da mansão procurando seu humano ruivo, mas não voltou com nada além do seu fedor e da sua melancolia. Na verdade, eu sinto ódio em v-

- Se sente bem traindo Salomé? - Perguntei.

- Carmilla está do nosso lado.

- Então você não possuía lealdade com Salomé?

- É claro que sim, mas Carmilla é Carmilla. - Falou como se fosse óbvio, balançando a cabeça e bufando para mim. - Mas bem, você não quer me contar o que está acontecendo, ninguém quer. Às vezes parece distante o fato de que eu fui um Ancião do Conselho!

O Vampiro e o Romani - Livro O1  {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora