"E eu morei durante um tempo na Casa de Lilith e lhe perguntei:
'Fora da Escuridão,
como você construiu este lugar?
Como você fez roupas?
Como você cultivou comida?'E Lilith sorriu e disse:
'Ao contrário de você, eu estou Acordada.
Eu vejo as Linhas que giram ao redor de você.
Eu faço o que eu preciso com Poder.'"O Livro de Nod
Faziam oito dias desde que o corpo de Liu foi achado, e além disso, um vampiro havia sido capturado.
Ela era uma mulher de cabelos curtos até os ombros e não muito forte, tanto que apenas correntes normais foram o suficiente para prendê-la em um poço abandonado ao sul da cidade. Era quase dolorido vê-la se debater, mostrar os dentes e enquanto estava amarrada, era colocada dentro do lugar úmido e depois seus gritos abafados pela tampa pesada de prata.
Seu rosto estava tão sujo que mal se podia ver suas feições, e não parecia passar dos quinze anos de idade.
Bóris a olhava de longe, cercada pelos homens e pelas mulheres, sendo pendurada e colocada dentro do poço gelado.
Ele sentiu seu coração doer ao olhar aquela cena, os olhos da menina estavam escorrendo lágrimas vermelhas enquanto tentava morder quem estivesse ao seu alcance quando foi suspensa pelas correntes como um porco abatido. Provavelmente ela já sabia do seu destino nas mãos daquelas pessoas quando mais cedo tentou fugir e agora estava chorando como um bebê.
Ele se lembrou de quando aprendeu todo aquele tempo sobre as criaturas que eram como ela, sobre sua natureza predatória cruel e insensível. Ainda conseguia ouvir a anciã sentada sobre a fogueira falando sobre cada uma das fraquezas das criaturas da noite, ela contou que eles não possuíam sentimentos mas os imitavam, muitas vezes observando os humanos ou lembrando de como eram em sua vida passada.
Bóris suspirou imaginando que aquela vida era lamentável, e já pela tarde, quando o céu estava tomando cores quentes pela chegada da noite, parou novamente olhando para a menina sustentada por coerentes sobre a abertura do poço, fungando e contendo os gritos com medo de cair. As mulheres do clã estavam a volta dela, segurando sua nuca e apertando sua garganta cortada contra a abertura do odre de argila, o sangue pingando lá dentro.
Bóris deu meia volta e bateu as botas no chão úmido, caminhando até o outro lado do acampamento onde estavam sendo servido o jantar.
Com seu prato em mãos, entrou na fila procurando Diego com os olhos, mas não o encontrou. Estendeu o prato para Maria, a moça de rosto bonito e gentil que colocou uma concha cheia de sopa de legumes e, olhando para os lados, colocou sorrateiramente um pedaço maior do peito de frango no prato de Bóris.
- Você está muito magrinho. Tem certeza de que está comendo direito? - Ela perguntou sorrindo, fazendo Bóris corar as bochechas, envergonhado pela preocupação.
Ele não estava comendo, apenas pegou aquele prato porque sabia que podia desmaiar de fraqueza a qualquer momento e já podia ouvir Diego ameaçando quebrar seus pés caso isso acontecesse.
Claro que ele não diria para aquela moça tão gentil que lhe lembrava Brigitte, o motivo pelo qual ele não estava comendo.
Ele ainda lembrava do rosto de Liu com o pescoço torto naquela escada de pedra, e o rosto de preocupação dela o fazia se sentir pior ainda. Aquela comida que tinha um cheiro ótimo estava fazendo com que ele se sentisse enjoado.
Bóris saiu da fila e se sentou no chão de pernas cruzadas cutucando o pedaço de frango com a colher, se sentindo pior por querer jogar aquela comida fora.

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O Vampiro e o Romani - Livro O1 {CONCLUÍDO}
VampireOrfeo é um vampiro solitário, vaga pela terra há quase dois mil anos apenas com os próprios demônios, quando como em uma luz no fim do túnel, acaba conhecendo um humano enfermo á beira da morte. Sucumbido pelo egoísmo e pela dor de perder sua única...