Capítulo 15. Desequilíbrio do Sangue

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"Se meus demônios me abandonarem, temo que meus anjos desapareçam também

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"Se meus demônios me abandonarem, temo que meus anjos desapareçam também."

Rainer Maria Rilke

Imaginei Mephisto, com seus olhos vermelhos como um demônio e encarceirando-me em seu abraço de cobra, sustentando meu pescoço entre suas garras. A careta demoníaca transfigurada trazia pregas acima de suas narinas infladas, mostrava seus dentes protuberantes como um animal selvagem.

Em minha imaginação, ele enfiava as mãos em meu bolso e retirava de lá os papeis, constatando minha traição. Sua boca soltava lufadas de ar quente e sangrentos pelo meu pescoço enquanto cantava risadas de escárnio. Senti suas mãos atravessarem a carne de meus braços e as unhas arrancarem as veias para fora, paralizando-me e transformando meu corpo em uma marionete.

Acho que comecei a tremer, meus pés se desequilibraram e fui apoiado na parede atrás de meu corpo.

Uma estranha névoa negra cobriu meus olhos, e depois de alguns segundos vivendo um pânico silencioso e escuro, percebi que estava cego. Passei os dedos pelos olhos abertos, piscando e tentando formular teorias para o que estava acontecendo. Para mim não era possível perder a visão, além do mais, não havia algo mais inútil no mundo do que um Vampiro cego.

Toquei meus ombros encontrando uma mão descansando. Dedos longos apertavam meus ossos, quase esmagando-os. O calor que irradiava da pele me queimava, e o hálito de ameixa quente batia contra minha bochecha.

- Está com medo, querido Domitius? - O calor sumiu, o contato se restringiu apenas na mão acima do meu ombro.

Aos poucos foram reveladas as cores por trás da transparência e o escuro dissipou. A íris cor de âmbar apareceu primeiro e ela tremia com furor, uma raiva agonizante e aguda que me rodeava, contaminando a mim com seus sentimentos. Os cabelos ondulados e castanhos estavam molhados de sangue, desgrenhados e grudavam á testa.

Virei o rosto evitando o contato laborioso e ébrio, minha língua cobiçando o sangue semeado pelas luvas brancas em minha carne.

Fui estudado por ele por um tempo prolongado, suas mãos subiram e hesitante, apertou as laterais de meu rosto, os dedos forçaram contra a pele de minha bochecha. Controlei a respiração, sentindo a tremedeira de suas mãos que reprimiam sua força para que meu crânio não fosse quebrado.

- Baltazar? - Ao escutar minha voz, ele se afastou de mim juntando as sombrancelhas. Seu rosto demonstrava tristeza e cólera, os sentimentos faziam seu lábio inferior tremer. Inspirei sem querer o cheiro de tabaco e sangue misturados em suas roupas douradas. Não mantinham a mesma essência doce e suave de antes, naquele momento amargava minha língua e doía-me as narinas. Levou os dedos a boca pedindo meu silêncio.

O Vampiro e o Romani - Livro O1  {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora