"Tu não és para mim senão uma pessoa inteiramente igual a cem mil outras pessoas. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo..."
Antoine de Saint-Exupéry O PEQUENO PRÍNCIPE
A fumaça de prata queimava meu rosto e meus pulmões, por isso tive que segurar a respiração. Estava tudo branco, a mistura da poeira embaçava a minha visão e por pouco não enxerguei a criatura que se aproximava.
Os olhos apertados e negros me encaravam com fúria, com seus dois metros e músculos saltados Jaci se colocava entre mim e Mephisto com as mãos cerradas em punhos, estava perfeitamente bem, porém mancava. Estaria prestes a lutar comigo se o vampiro de olhos cinza, débil e esticado no chão não tocasse seu tornozelo com a mão.
O rapaz olhou para baixo como se estivesse se esquecido da presença do outro, e nesses pequenos instantes, outra explosão jogou mais prata em nossos olhos, derrubando acima de Mephisto uma das quatro colunas que ainda se mantinham de pé. O rapaz a segurou com sua força abissal e a jogou para o lado, tomando rápidamente Mephisto nos braços como uma criança, e dando uma última olhada para mim antes de sumir de de minha vista.
Tateei o entulho abaixo de mim e contei meus membros. Dois braços, duas pernas e cinco dedos em cada mão. Perfeito.
Engatinhei para uma parte da estrutura que ainda não havia rachado, e por acaso do destino, era uma das portas para o subterrâneo mais fundo onde estavam os presos. Quase tropecei no desespero de descer as escadas rápidamente, mantendo os olhos atentos à escuridão.
O alívio foi tão forte que doeu minha garganta e expulsou o ar de meus pulmões, como se eu bebesse uma panela de água ferverte em apenas um gole.
Ettore, Cleo, Sebastian e até Baltazar estavam ali, se esgueirando por entre os buracos de concreto e sujando suas roupas com pó como minhocas para finalmente sair do edifício prestes a cair. Ainda tentei encontrar Angela, corri por todos os túneis e corredores que me me eram possíveis, mas ela havia sumido junto com seu cheiro.
Nós não trocamos palavras, apenas nos ajudamos quando achamos os túneis e puxamos uns aos outros. Baltazar estava empurrando Benji e a menina que eu havia bebido o sangue pelo buraco, mandando que fossem mais rápido.
Já por fora, notei o céu cinzento e a cada segundo ressoava uma trovoada. Puxei os humanos e por último Baltazar saiu, batendo a poeira do tecido de sua roupa. Olhou para os dois humanos e os tomou nos braços, beijando-os na cabeça e na testa como uma mãe faz depois de vários dias sem ver os filhos.
Estávamos no fundo da igreja, ao lado do pátio em que eu havia sido ameaçado mais cedo. Ao longe, algumas carruagens humanas chegavam atraídas pelo barulho da explosão.
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O Vampiro e o Romani - Livro O1 {CONCLUÍDO}
VampirOrfeo é um vampiro solitário, vaga pela terra há quase dois mil anos apenas com os próprios demônios, quando como em uma luz no fim do túnel, acaba conhecendo um humano enfermo á beira da morte. Sucumbido pelo egoísmo e pela dor de perder sua única...