"Mas tendo retornado ao mundo como um vampiro
Teu corpo deverá da tumba erguer-se
Assombrar o lugar em que nascestes
E sugar o sangue de toda tua raça"
Lorde ByronEu estava confuso e sonolento, no ponto entre dormir e acordar, sentindo minha mente sendo forçada a se afogar no escuro por uma mão invisível empurrando-me a cabeça.
Eu não sei ao certo, mas provavelmente o Ghoul havia me jogado contra a parede e assim meu crânio amassou.
Na escuridão do coma, fui atacado por cheiro de lenha queimada, cheiro de mar, cheiro de pão assado, cheiro de roupas, cheiro da tinta que Patrícia fazia misturando gema de ovo com pedaços de ninerais moídos, o cheiro de mel que vinha dos cabelos castanhos dela. Tudo havia cheiro de coisas que eu havia esquecido como se pareciam, o cheiro da nostalgia me impregnava.
Um sonho começou a surgir em minha mente.
Meus joelhos e dedos encontraram o chão vermelho e pegajoso sob um céu poente, nublado e carmesim. Levantei a mão para frente do rosto e esfreguei os dedos observando aquele líquido gorduroso e repulsivo que se parecia muito com sangue coagulado mas tinha cheiro de coisa queimada, manchando todo o chão brilhante.
Me levantei com um pouco de dificuldade, sentindo aquele cheiro de sangue na brisa, mas não era agradável, ao contrário disso, era enjoativo demais.
Levantando a cabeça ao me colocar de pé, observei perplexo as aves naquela pequena floresta voando no sentido contrário, saindo do céu e mergulhando naquele solo, passando por ele como se não estivesse ali.
— Eu sempre achei você uma criatura adorável, Plistarco de Esparta. — Aquela voz aguda chegou aos meus ouvidos como ferro arranhando ferro, meus braços arrepiaram em agonia ao me virar para olhar aquelas duas presenças idênticas uma ao lado da outra. Porém uma das mulheres era enorme e possuía cabelos lisos, a outra era menor, e cachos vermelhos compunham sua cabeça. — Mesmo quando ainda era apenas um pequeno humano e não um de meus filhos.
Aquela sem dúvida alguma era Lilith, a reconheci das memórias de Bóris.
Seus cabelos vermelhos como fogo flutuavam como se uma eterna brisa os estivesse colocando para cima. Os olhos sem íris ou pupila brilhavam como duas esferas de rubis presas em seu crânio.
— Você tem raiva de mim, não é? — Perguntou andando até mim, deixando sua cópia parada ao seu lado. — Você diz que tem mágoa dele por causa de sua cria enlouquecer, mas também tem raiva porque me culpa depois de ver o passado da minha casca. Você não acha mais que ele seja o responsável por você não saber de nada?
— Seu filho. — Corrigi recebendo seu rosto sério. — Ele, Bóris é seu filho, não sua casca.
Ela sorriu levantando as maçãs do rosto cor de capim-dourado.
O rosto dela era incrivelmente idêntico ao de Bóris, com pequenas diferenças como a jugular do outro sendo mais firme e o rosto mais quadrado, porém era óbvio o parentesco.
— E quanto ao seu? — Sussurrou. — Você abandonou o seu filho, não foi? O homem que se chamava Isaac, e que você o nomeou depois de Mephistófeles. Oh, o que alguém que ama seus filhos é capaz de fazer por eles? Você abandonou Mephisto porque achou que ele fosse morrer estando perto de você, já que ele estava causando todo aquele rebuliço e meus outros treze demônios estavam observando você de longe. Você achou que mandando-o embora, ele iria esquecê-lo e não mais voltaria para morrer, não mais voltaria para ameaçar sua filha amada e humana.
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O Vampiro e o Romani - Livro O1 {CONCLUÍDO}
VampirOrfeo é um vampiro solitário, vaga pela terra há quase dois mil anos apenas com os próprios demônios, quando como em uma luz no fim do túnel, acaba conhecendo um humano enfermo á beira da morte. Sucumbido pelo egoísmo e pela dor de perder sua única...