Narrador
Sonho. Desejo. Ambição. Chame como quiser, a realidade é que estamos numa incessante busca – às vezes – inalcançável por aquilo que convictos acreditamos ser a maior conquista das nossas vidas. Mas até que ponto isso é verdade? Acabamos vencidos pelo sentimento de insuficiência e o que possuímos não parece ser capaz de nos trazer realização, não de forma genuína. Um ótimo emprego, um carro 0km, duas ou três viagens por ano, um apartamento em um bairro de classe média-alta. Talvez esse sentimento venha de um local pouco explorado e se pararmos pra pensar por dois segundos vamos perceber que não se trata de dinheiro ou bens materiais, estamos falando de pertencimento e aceitação, de sermos bons para o mundo e para os outros, mas nunca para nós mesmos.
Felizmente essa não era a realidade vivida por Gizelly, os sentimentos de felicidade e gratidão a dominavam naquela manhã ensolarada de sexta-feira enquanto dirigia em direção ao escritório. A capixaba cantarolava de forma atrapalhada algumas músicas de sua playlist favorita, os dedos batucavam contra o volante no ritmo do momento. Diferente dos demais dias da semana a arquiteta resolveu seguir por outro caminho, o transito não dava trégua, mas nem mesmo isso foi capaz de lhe tirar o largo sorriso do rosto. Estava a pouco mais de cinco minutos do seu destino final quando passou por uma fachada do que parecia ser uma cafeteria, não soube exatamente o que, mas o local lhe chamou a atenção, o suficiente para que diminuísse a velocidade e fosse em busca de uma vaga de estacionamento, não tardou a encontrá-la, talvez por ainda não passar das 8:30 da manhã.
Gizelly caminhou até a entrada do estabelecimento e ao passar pela porta foi prontamente recebida por uma figura que não tinha mais do que um metro e meio de altura, mas um sorriso que mal cabia no rosto, imaginou ser a gerente, pois trajava um avental diferente dos demais funcionários que circulavam por ali, o local tinha porte médio, era extremamente aconchegante, talvez pelo tom terroso dos pequenos tijolos combinados ao tom escuro das mesas quadradas dispostas pelo salão principal, além de uma iluminação indireta, que deixava tudo mais intimista. A capixaba estava tão encantada com o que via que mal notou quando a mulher que a recebeu anteriormente chamou sua atenção.
– Bom dia, posso ajudá-la? – A mulher mais baixa disse com o mesmo sorriso largo. Gizelly a olhou com uma expressão totalmente confusa – Moça? Tá tudo bem?
– Hã? – A maior finalmente havia saído da sua bolha – Sim, estou ótima, obrigada... – Fez uma pausa e focou na inscrição na parte superior do uniforme que indicava o nome da outra mulher. – Manu? – A gerente assentiu com a cabeça.
– É sua primeira vez em nossa cafeteria, tô certa? Sou ótima com fisionomia e não me lembro de tê-la visto em outra ocasião – Ela tinha as mãos entrelaçadas à frente de seu corpo e se balançava levemente.
– Sim, é a primeira vez. – Gizelly soltou um leve suspiro antes de voltar a falar – Tô completamente encantada pelo local e me perguntando como nunca o tinha visto antes. – Agora foi a vez da arquiteta abrir um sorriso – De qualquer forma, pretendo mudar isso.
– Fico feliz que tenha gostado, senhorita. – Manu caminhou até o balcão e esperou que a mais alta se aproximasse. – Como é a sua primeira vez, posso sugerir algo? – A mais alta maneou positivamente a cabeça. – Perfeito. – Ela pareceu pensar por breves segundos antes de voltar-se para Gizelly. – Hoje você vai experimentar o nosso famoso Expresso Panna, vou prepará-lo e o levo até a sua mesa. – A gerente se virou para a bancada de preparo quando viu a outra mulher assentir. – Fique à vontade.
A arquiteta caminhou até uma das poucas mesas disponíveis, o salão estava cheio, sinal de que as pessoas realmente gostavam do local. Checou o celular e viu que não teria problema ultrapassar dez ou quinze minutos do horário previsto, provavelmente Bianca chegaria ainda mais atrasada, como era costume. Em poucos minutos notou a mulher mais baixa caminhar em sua direção segurando uma bandeja, sobre ela uma xícara e um pequeno muffin num prato. Depositou-os sobre a mesa e encarou a mulher a sua frente – Espero que goste, qualquer coisa que precisar, estarei logo atrás do balcão. – Em seguida retirou-se caminhando entre as outras mesas.
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Manat | ⚢
ФанфикA arquiteta e a publicitária não se conheciam, não possuíam amigos em comum ou sequer frequentavam os mesmos lugares. As chances de suas rotinas se cruzarem eram quase nulas, para não dizer impossíveis, mas naquela manhã em que a Gizelly optou por m...