Manat | ⚢

CAPÍTULO VI - DEDUÇÕES

GIZELLY BICALHO

Confesso que me surpreendi ao receber a mensagem de Rafaella me convidando para um almoço. Ainda que o clima fosse amigável, imaginei que ela estivesse tão reticente quanto eu após nosso momento em seu apartamento. Apesar disso, não consegui pensar em um motivo para recusar seu convite, para ser sincera, não queria fazê-lo, afinal, não era como se fôssemos a um encontro, certo? Era só um almoço, já havia feito isso com outros clientes. Ok Gizelly, mas você nunca beijou outros clientes.

- Escolha logo uma roupa, Gizelly. - Falei parada em frente ao meu closet, estava ali há pelo menos dez minutos. - Qual a dificuldade em encontrar uma roupa para ir ao escritório? Você faz isso todos os dias. - Ri sem humor.

Após vinte minutos e uma cama coberta por diversas peças finalmente consegui escolher algo, talvez aquele almoço estivesse me deixando mais nervosa do que deveria, só não entendia o porquê. Estava a caminho do escritório quando uma chamada ecoou pelos auto-falantes, costumava conectar meu celular ao sistema Bluetooth do carro caso precisasse atender uma ligação importante.

- Alô? - Disse incerta, pois não sabia quem estava do outro lado da linha.

- Bom dia, minha arquiteta favorita. - Assim que reconheci a voz não pude deixar de abrir um largo sorriso.

- A sua cara nem treme, né? Sabemos muito bem que esse posto não é meu. - Meu tom era divertido, estava estranhamente bem humorada.

- Vamos almoçar juntas hoje? Tô precisando conversar. - Seu tom mudou repentinamente e eu me preocupei de imediato.

- Ei, aconteceu alguma coisa? - Ela ficou alguns segundos em silêncio. - Nana?

- Sim, mas não quero falar por telefone. Se você estiver ocupada, não tem problema, marcamos outro dia. - Pude ouvi-la suspirar do outro lado.

- Não estou, nos encontramos no Guacamole ao meio dia? - Forcei um tom animado, sabia que teria que desmarcar com Rafaella e isso me frustrou um pouco.

- Combinado. Nos vemos mais tarde, gostosa. - Sua voz soou um pouco mais animada e eu suspirei aliviada.

- Nana? - Chamei sua atenção e a ouvir murmurar pra que eu continuasse. - Amo você, ok?

- Também te amo, Gi. Agora preciso ir, beijo. - Ela encerrou a chamada e eu finalmente soltei todo ar que estava preso.

Precisava ligar para Rafaella desmarcando nosso almoço, numa outra oportunidade explicaria o motivo, ainda que tratasse de algo pessoal, era o mínimo a se fazer depois de cancelar em cima da hora. Estava a minutos do escritório, então ao parar no sinal vermelho busquei rapidamente seu contato e iniciei a ligação, alguns segundos se passaram até que pudesse ouvir aquela voz do outro lado da linha.

- Gizelly? - Ela pareceu surpresa com a minha ligação.- Tudo bem?

- Oi Rafa, tudo bem e você? - Meu tom era calmo, disfarçava bem meu nervosismo interno.

- Eu tô bem, obrigada. Aconteceu alguma coisa na obra? - Percebi a mudança em seu tom de voz.

- Não, tá tudo perfeitamente bem por lá. - Não contive um suspiro. - Liguei pra me desculpar, mas terei que cancelar nosso almoço.

- Ah... - Ela permaneceu em silêncio por alguns segundos. - Bom, é uma pena, mas obrigada por avisar, seria constrangedor ficar esperando.

- Eu sinto muito, tive um imprevisto e não pude adiá-lo pra outro momento. - Um nó se formou em minha garganta. - Se você não estiver ocupada e quiser, quero te levar pra jantar... hoje.