CAPÍTULO XXVI - OBSESSÃO

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JULIA GARCIA

Sempre me considerei muito objetiva e vivi parte da minha vida ouvindo que ser assim me fazia fria e calculista, principalmente por nunca poupar esforços para alcançar o que eu desejava, mesmo que para isso tivesse que passar por cima do que atravessasse meu caminho. Talvez essas pessoas não estivessem tão erradas sobre quem sou, mas diferente delas, nunca acolhi esse meu lado como algo negativo, pelo contrário, me fez alçar voos que jamais seriam possíveis se me mantivesse em uma posição de comodismo ou pacificidade, afinal, ninguém chega a lugar algum sendo bom o tempo todo.

Muitos podem interpretar o meu interesse por Gizelly Bicalho como um simples capricho ou como uma forma de provar a mim mesma que sou capaz de conseguir tudo que quero. A verdade é que eu a desejei desde a primeira vez que nos vimos a sete meses atrás. Se o destino havia colaborado para o nosso encontro, porque eu desperdiçaria a chance de tê-la?

FLASHBACK

Junho de 2020

Depois de muito insistir, Amanda conseguiu me convencer a acompanhá-la até uma casa noturna recém inaugurada, ela havia marcado com um cara que conheceu por um desses aplicativos de namoro e achou prudente ter alguém de confiança por perto, caso algo saísse do controle. Mesmo que não fosse meu programa favorito, nem tentei recusar o convite, sabia que seria inútil negar qualquer coisa à minha melhor amiga.

Um pouco depois das dez da noite chegamos ao tal lugar. O combo de música alta e pessoas bêbadas transitando cambaleantes seria a desculpa perfeita pra sair correndo dali, mas sabia que teria que ficar ao menos até que minha amiga encontrasse o tal cara e me fizesse ter certeza que não havia risco em deixá-la sozinha em sua companhia. Assim o fiz.

Decidi que beber seria a melhor distração naquele momento, então caminhei até o bar e optei por uma cerveja gelada. Meus olhos percorriam todo o ambiente quando me deparei com uma figura a alguns metros de mim, mas suficientemente perto para que eu pudesse observá-la minunciosamente. Os longos cabelos castanhos e cacheados, o sorriso largo e a postura completamente elegante enquanto gesticulava no que parecia ser uma conversa animada eram a visão do paraíso, não fosse pela mulher plantada ao seu lado, numa proximidade que não deveria existir.

Desejei me aproximar, mas não sabia como fazê-lo, talvez fosse melhor observar por mais algum tempo, assim teria certeza de que ela estava disponível. A outra mulher a tocava de forma incisiva, mas não havia sinal de incômodo, pelo contrário, a detentora de toda minha atenção parecia se divertir com o momento.

Passados alguns minutos, caminhei em sua direção quando vi que a sua suposta companhia havia se afastado. Precisava ser rápida e direta, mas não a ponto de assustá-la, dessa forma, toquei levemente seu braço e esbocei meu melhor sorriso.

- Boa noite, sou Julia. - Estendi minha mão em sua direção e fui prontamente retribuída. Ótimo começo, pensei.

- Gizelly. - Esboçou um breve sorriso e balançou a cabeça, como se quisesse reforçar o cumprimento.

- Aceita companhia? - Levei a mão até os cabelos e os coloquei sobre o ombro. Esperava não estar sendo direta demais.

Sua atenção parecia ter sido desviada para outra direção, o que me fez acompanhar seus olhos até que estivessem fixados na mulher que a minutos atrás se fazia presente ao seu lado. Será que estavam juntas?

- Obrigada, mas estou acompanhada. - Foi tudo que ela disse antes de caminhar em direção a mulher e me deixar plantada feito uma idiota.

Depois daquela noite, concluí que se alguma força superior existisse, ela estaria rindo da minha cara naquele exato momento. Me fazer pensar que Gizelly e eu tínhamos algum propósito maior após nosso encontro totalmente ao acaso era a maior estupidez que havia passado pela minha cabeça.

Manat | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora