NARRADORA
Os nossos atos, pensados ou involuntários, trazem consigo consequências e não há como fugir, ainda que desejemos e tentemos com todas as forças. Fingir a inexistência do que foi feito ou dito não é uma opção, então o que nos resta? Enfrentar. E era exatamente isso que Rafaella faria naquela manhã de segunda-feira, só não sabia como explicaria a mensagem enviada para a sua arquiteta após se despedirem naquela madrugada.
– Droga. – Praguejou quando passou pela entrada do edifício e notou a presença da mulher que tentava a todo custo evitar.
– Bom dia, Rafaella. – A arquiteta disse ao levantar-se da poltrona onde aguardava e se aproximar da mineira com algumas sacolas nas mãos.
– Bom dia, Gizelly. – Seus olhos desviaram da mulher a sua frente. – A Bianca não vem?
– Ela precisou resolver algumas pendências de outra obra. – Gizelly esboçou um pequeno sorriso.
– Certo. Podemos subir? A entrada da sua equipe já tá liberada. – Rafaella caminhou em direção ao elevador.
– Claro. – Os olhos não se cruzaram em nenhum momento no caminho até o apartamento.
O clima estava visivelmente tenso, mas nenhuma das duas parecia ter coragem de iniciar aquela conversa, o momento era totalmente inoportuno, afinal, estavam ali para tratar de um assunto profissional e qualquer coisa que fugisse disso deveria ser deixado para outra hora.
– Você primeiro. – Disse após abrir a porta e dar passagem para a outra mulher. – Eles chegam às 8h, né?
– Exatamente... já que hoje você caiu da cama, temos alguns minutos até lá, enquanto isso quero te mostrar algumas plantas para que saiba o que será feito nessa primeira etapa, tudo bem? – Retirou algumas folhas do envelope que tinha em mãos.
– Certo. – Se aproximou um pouco mais da bancada onde a arquiteta havia apoiado as folhas. – Eles vão começar demolindo tudo?
– Tudo não, a princípio serão essas paredes aqui... – Apontou para um local específico da planta. – Depois vão remover os revestimentos de todos os banheiros, cozinha e área de serviço.
– Entendi. – A mineira suspirou pesadamente antes de desviar o olhar. Estava prestes a se afastar quando a outra mulher chamou sua atenção.
– Rafa? – Disse tocando a mão da empresária que estava sobre a bancada.
– Sim? – Os olhares finalmente se encontraram e dessa vez nenhuma das duas desviou. As mãos continuaram em contato.
Gizelly aproximou-se um pouco mais de Rafaella, os olhos ainda estavam fixos e a distância entre elas a permitia sentir o hálito quente contra sua pele. A partir dali seus movimentos tornaram-se automáticos e num ato de coragem levou uma das mãos até a cintura de Rafaella, fazendo uma leve pressão sobre a pele coberta pelo tecido fino, os corpos agora estavam colados. A outra mão deslizou levemente pelo braço, ombro e finalmente pousou sobre a nuca, o toque era suave, ela parecia pedir permissão para ir adiante.
A mineira apesar de surpresa com a atitude da arquiteta não fugiu, talvez estivesse desejando aquele momento desde o último encontro. Suas mãos envolveram a cintura de Gizelly e seus lábios ficaram a centímetros de distância, os olhos fecharam-se imediatamente. O primeiro contato foi apenas um roçar dos lábios, que em segundos se tornou maior do que poderiam explicar. As bocas se encaixaram e se provaram como queriam, as línguas não disputaram espaço, não era necessário, estavam se conhecendo. Os toques ainda tímidos demonstravam curiosidade apesar dos corpos visivelmente ansiarem por mais. Prolongaram o momento o quanto puderam, mas precisavam recuperar o fôlego, ainda sim, os corpos permaneceram colados e os olhos fechados.
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Manat | ⚢
FanfictionA arquiteta e a publicitária não se conheciam, não possuíam amigos em comum ou sequer frequentavam os mesmos lugares. As chances de suas rotinas se cruzarem eram quase nulas, para não dizer impossíveis, mas naquela manhã em que a Gizelly optou por m...