CAPÍTULO XVIII - LAR

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RAFAELLA KALIMANN

Os exercícios de respiração não surtiam qualquer efeito, nada conseguia me acalmar, nem mesmo o toque suave da mão de Gizelly sobre a minha. Apesar de ter falado com Márcia inúmeras vezes por chamada de vídeo, essa seria a primeira vez que estaríamos frente a frente. E se ela não gostasse de mim? Se achasse que não sou boa o bastante pra sua filha? Meu coração estava inquieto e eu tentava a todo custo não ser tão transparente, em vão.

- Deusa, desse jeito não vamos chegar ao Espírito Santo. - Disse ela ao parar de caminhar e me encarar com aquele sorriso lindo nos lábios. - Não tem porque ficar assim, Dona Márcia já te adora sem nem mesmo ter te visto.

- Mas à distância tudo é mais fácil, se ela não aprovar o nosso namoro? Se ela me odiar? - Suspirei pesadamente e encarei o chão. - Não sei o que tá acontecendo comigo, tô surtando.

- Ei, olha pra mim. - Senti sua mão livre tocar meu rosto e o erguer, fazendo com que nossos olhos se encontrassem. - Eu tô aqui com você e te garanto que ela aprovou nosso namoro muito antes dele existir. - Deixou um beijo carinhoso em meus lábios.

- Vai ficar tudo bem, essa sou eu surtando à toa mesmo. - Retribuí o beijo e esbocei um pequeno sorriso. - Acho melhor irmos ou vamos acabar perdendo o voo, aí sim minha sogra terá todos os motivos pra não gostar de mim.

- Você é irresistível, Kalimann. - Entrelaçou nossos dedos e me puxou em direção ao portão de embarque. - Qualquer pessoa nesse mundo te amaria, não tenho dúvidas.

Pouco tempo depois, estávamos acomodadas em nossas poltronas, Gizelly fez questão que eu me sentasse ao lado da janela, queria que eu apreciasse Vitória vista de cima assim que estivéssemos prestes a descer. Ela fez questão de me distrair durante todo o vôo, contou algumas histórias sobre sua infância e adolescência antes de se mudar para o Rio de Janeiro, sobre sua família, amigos. Sem que eu me desse conta aquele aperto cessou e uma sensação de paz me invadiu, porque era sempre assim quando a tinha ao meu lado. Lar.

- Amor? - Fui tirada dos meus pensamentos quando a ouvi sussurrar próxima ao meu ouvido e deixar um beijo sobre meu ombro. - Bem vinda ao Espírito Santo.

- Obrigada, meu bem. - Meu sorriso se alargou ainda mais e eu rapidamente me virei em sua direção, deixei um beijo carinhoso em seus lábios e voltei meus olhos para a janela, observando atentamente a paisagem.

[...]

O caminho do aeroporto até o apartamento de minha sogra não foi longo, mas não impediu que Gizelly me mostrasse cada ponto da cidade com uma animação que enchia meu peito de alegria, era bom vê-la tão feliz e tão... cheia de vida que não consegui deixar de sorrir por nenhum segundo. Quando o carro finalmente estacionou, notei que aquela insegurança que me abateu mais cedo havia se dissipado. Pegamos nossas malas e caminhamos em direção a portaria, nossa entrada foi rapidamente liberada, pois Márcia já nos aguardava.

- Tá mais calma? - Gizelly me encarou e sorriu quando paramos em frente a porta do apartamento. - Antes de entrarmos, queria te pedir uma coisa. - Sua expressão ficou séria de repente.

- Estava, mas agora me preocupei com esse seu pedido aí. - Torci os lábios e continuei encarando-a. - Fala logo antes que eu tenha um infarto aqui mesmo.

- Qualquer coisa que você ouvir sobre mim a partir de agora, não leva em consideração, por favor. - Pude ver um sorriso travesso surgir nos seus lábios. - Minha mãe é maluca, ela vai te encher de histórias e me envergonhar como puder com fotos e mais fotos da minha adolescência. - Vi seus lábios formarem um pequeno bico.

Manat | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora