Incêndio

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PoV Hikari


Eram 7h da manhã quando eu decidi sair da casa de Sasuke, mas dessa vez, sozinha. Por sorte, não o encontrei no café da manhã e Sakura parecia estranhamente interessada em minha vida.

Perguntou se eu namorava e até sugeriu que eu tinha algum caso com os meninos, que é claro que eu neguei com risadas descompromissadas.

Aquela simpatia dela me irritava e eu sai o mais cedo que pude.

O horário marcado para ir até a sala do Hokage discutir sobre o plano de investigação era às 9h. Sendo assim, eu tinha tempo o suficiente para resolver meus assuntos pendentes na vila.

Tudo ia bem até eu cruzar a rua do antigo Ichiraku. Dei de cara com quem eu menos queria: Sasuke.

Ele vinha do outro lado da rua e foi impossível não trocar olhares. A decisão era clara: passar reto.

Foquei no horizonte e fingi que ele não estava lá. Mas, sem nem dar bom dia ele me pegou pelo braço e não me deixou sair. Na verdade, ele me puxou para uma daquelas ruelas de Konoha, onde o sol mal entra e os cães e os gatos se divertem com os lixos acumulados.

- Precisamos conversar. – ele disse rude.

Olhando para ele, eu pude perceber que seus olhos negros transbordavam raiva, ele cerrava os dentes como se isso pudesse ajuda-lo a controlar as emoções. Com 32 anos, ele ainda era o mesmo moleque irritado de sempre, com suas bochechas avermelhadas pela raiva, contrastando com sua pele pálida e o as sobrancelhas franzidas.

- Não precisamos não. – Argumentei de forma rápida.

- Que merda aconteceu ontem Hikari? – Ele questionou, forçando a voz a sair da garganta.

- Quer que eu dê detalhes? – Abri um sorriso malicioso.

Nessa hora eu levei um susto, pois ele me pressionou contra a parede.

-Eu não estou brincando.

- Nem eu. – Respondi.- você é bem grandinho para saber o que aconteceu.

Levei um susto quando ele me soltou e socou a parede, bem acima do meu ombro.

-Você está acabando comigo. – ele confessou.

-Eu não entendo... Você se casou. Você escolheu seu casamento Sasuke. Eu não sou casada.

-Com.. qual dos dois você está? Estão firmes? – Sua voz soava irritava, embora ele ainda forçasse para sua garganta produzir algum som.

Ele estava se esforçando. Sasuke, quando fica com raiva, dificilmente fala e nesse momento ele estava dando seu melhor para não socar alguma coisa e acabar sendo destrutivo. Percebi que o Uchiha só queria uma coisa: explicações.

A dor dele me confortou.

Eu sei, isso é errado. Mas, por todas as vezes que eu chorei sozinha, abandonada pelo comportamento tóxico dele. Todas as vezes que eu não me sentia digna do amor, por culpa dele... E pior, o próprio dia em que eu fui abandonada, grávida.

Tudo isso pareceu parcialmente recompensável ao ver um Sasuke Uchiha fragilizado em minha frente.

- É esporádico. Nós somos adultos entende? Se a gente quer transar... a gente transa. Acho que você conhece bem esse tipo de relação. – Encarei ele, daquele jeito que o Uchiha tanto odiava.

Cheia de maldade e malicia, mas com um misto de verdade.

Ele desviou o olhar.

- Quando era com a gente... Era diferente. – Ele justificou.

-Nunca foi diferente Sasuke. – Respondi rude, colocando as mãos do bolso.

Minha postura era clara: eu não estou nem aí para você. Embora, eu preciso ser sincera com vocês: Meu coração estava acelerado e se eu pudesse, pularia em seu pescoço e o abraçaria.

Mas, eu não poderia. Meu passado e minhas dores me impediam de ter qualquer atitude positiva em relação ao Sasuke.

- Você sempre deixou bem claro para que me queria. E eu não posso te julgar, afinal, eu que entrei no seu jogo. E tudo bem. Afinal, já éramos maduros o suficiente desde os 15 anos não é?

-Para... De dizer essas coisas. – Sua voz soou rude.

-Eu não estou falando por mal... É só para você... relaxar. O que aconteceu entre nós, acabou. E está tudo bem. Já foi...

Novamente outro soco na parede. E o que aconteceu a partir daí eu não esperava... Ele abaixou a cabeça e a apoiou em meu ombro, senti o cheiro de seu perfume e seu cabelo liso roçava em minha pele. Arrepiei.

Merda... depois de tanto tempo, ele ainda fazia isso comigo.

Inexplicavelmente, senti algo úmido molhar meu ombro... O que... lágrimas? O grande Sasuke Uchiha estava CHORANDO?

Engoli seco.

-Sasuke eu....

-Você acha que eu sou idiota Hikari? Que não percebo o que você sente? Você sente tanto quanto eu. Está na sua pele, na sua alma, no seu coração... Então, se você sente tudo o que eu sinto e eu sinto tudo o que você sente... Por que você faz isso comigo?

Fiquei sem fala. Meu coração deu um salto e eu não soube o que dizer. Suspirei e instintivamente e sem pensar (para variar) coloquei minha mão em sua nuca, puxando-o para um abraço.

Aí as coisas ficaram ainda mais intensas. Meu peito explodiu de alegria e estar ali, tão perto dele, era como estar completa novamente. Essa emoção foi demais e senti algumas lágrimas tentarem escapar de meu rosto, mas não deixei.

- Se nós sentimos o mesmo, então porque você se deitou ontem? Pior... Você estava gostando, Hikari eu senti seu calor em mim! Você consegue perceber como isso me tortura?

Fiquei em silêncio. Afinal, o que eu diria? Respirei fundo e apertei ainda mais nosso abraço.

- Você sempre é tão quente... – Ele sussurrou.

- Talvez esse seja meu problema... – respondi soltando o abraço. – Fogo demais queima.

Ele aproximou seu rosto do meu. O cabelo comprido dele encobria seus olhos vermelhos de choro, sua boca se aproximou da minha e com a voz arrastada ele disse:

-Então me incendeia Hikari.

Eu queria desabar, segurar em seu pescoço e dar um beijo alucinante dele. Mas, eu poderia? Ele era casado com Sakura e ela nunca mereceria isso.

Ele investiu e com todas as forças do meu corpo, coloquei a mão em seu peito, barrando-o.

-Sasuke... Não faz isso. Você vai se arrepender.

Ele me encarou. Dessa vez, pude ver com todos os detalhes: os olhos e sua pele avermelhada pelo choro, o rosto úmido e os lábios sedentos. Eu preferia não ver. Aquilo cortou meu coração ainda mais e coloquei as mãos na boca para não chorar.

-Você... – Ele suspirou.

Passou a mão no cabelo e jogou-os para trás, não se importou em mostrar o rinnegan nesse momento, sinal que ele realmente estava desesperado.

-Só... Vai embora Sasuke. – Eu pedi. – É melhor para mim e para você.

Sem me questionar, ou insistir ele virou as costas e saiu. Aquilo cortou meu coração... Eu queria que ele ficasse, queria que pedisse por mim mais uma vez. Eu precisava daquilo.

Precisava do seu beijo, do seu abraço e do seu amor.

Quando eu fiquei completamente sozinha naquele beco, eu chorei. Chorei com todas minhas forças pelo amor que eu recusei.

Não o dele, mas o meu próprio amor. Que nesses momentos, quando estávamos juntos, parecia não caber no peito.

Aquilo que deixei para trás [Sasuke]Onde histórias criam vida. Descubra agora