27. Grey

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Enchi o copo com água gelada e derrubei um comprimido em minha mão. Sabia que só o remédio seria insuficiente para controlar a ansiedade e os pensamentos negativos, então prometi a mim mesmo que voltaria à terapia assim que minha carta fosse encontrada.

Se bem que se todas as outras fossem um pouco parecidas com a de Éric, isso poderia levar um tempo...

Tessália entrou na cozinha, encheu um copo, e retirou um comprimido de sua própria cartela de remédio. A artista não tinha tido mais nenhuma crise epiléptica desde a última vez, mas era reconfortante saber que estava se cuidando.

Seu rosto dourado olhou para mim e a mão ergueu o copo.

— Um brinde?

Peguei o meu da bancada.

— A todos aqueles que precisam de remédios para aguentar a vida – falei.

Encostamos os copos em um tilintar antes de beber. Em seguida, mandei uma mensagem à minha mãe avisando que tinha tomado a medicação, ao que ela respondeu com emojis de coração e carinhas sorridentes.

Imaginá-la sorrindo do outro lado do celular, me fez ter certeza de que estava tomando a decisão certa.

Após algumas de suas típicas perguntas de mãe (porque ainda estava acordado, se já tinha jantado, se Sadie não era mesmo minha namorada...) e de algumas respostas ensaiadas minhas, Monica relaxou por completo. Para todos os efeitos, eu e meus amigos tínhamos passado uma tarde estudiosa e produtiva na Biblioteca Central, longe de drogas e gângsteres.

Parei em frente ao acampamento improvisado que costumava ser a sala. Tessa e Paige haviam colocado dois colchões no chão, perto do sofá, com a intenção de dormirmos todos juntos e nos conectarmos. Eu não sabia se essa história de energias funcionava, mas não iria contestar as boas intenções delas.

Miguel estava deitado no sofá e segurava uma bolsa de gelo na cabeça. Éric passava pelos canais da TV e reclamava de não ter nenhum filme decente àquela hora da madrugada. Luís parou na frente da televisão e disse que deveríamos nos preocupar em dormir, já que tínhamos passado o dia todo na rua arrumando confusão.

Olhei para as portas da varanda complemente destroçadas.

— Eu deveria perguntar o que aconteceu ali?

Miguel olhou-as e respondeu:

— Ah, aquilo? Foi um pombo raivoso.

Balancei a cabeça, como se desaprovando algo.

— Os da Califórnia começaram a competir com os de Nova York, pelo visto – comentei. – Falando em pombos, onde estão as meninas?

Tessa se deitou em um dos colchões no chão.

— No quarto de Luís. Paige está cuidando dos machucados de Sadie – explicou.

Admito: a quantidade de ferimentos que Sadie adquiriu em tão pouco tempo, realmente tinha me deixado assustado. Quando encontramos Luís, ele nos contou sobre a briga dela com uma delinquente maluca, então alguns hematomas já eram esperados.

Acontece que se eu falasse "alguns hematomas", estaria sendo generoso...

Sua testa tinha aberto no supra cilho esquerdo. Havia marcas de sangue ao redor de suas narinas e o canto direito de seu lábio estava duas vezes maior. Havia alguns arranhões e hematomas em seus braços e pernas. Sadie parecia um personagem saída do filme Clube da luta – mais especificamente, o saco de pancadas.

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora