33. Sadie

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Um palco havia sido montado do outro lado do salão, bem em frente às janelas. Estas emolduravam a paisagem das palmeiras e o caminho até o lago. As folhas pontudas se arrastavam pelo vidro igual a dedos curiosos, como se a própria natureza estivesse ansiosa para assistir à apresentação.

O palco fora coberto com flores tropicais e cercado por luzes azuis igual ao oceano. Hau subiu nele igual a uma estrela do rock: acenando para os hospedes e cedendo sorrisos luminosos.

Ele estava sem camisa e usava apenas uma saia de folhas. Cobrindo sua cabeça nua, havia uma espécie de coroa feita de penas, que saíam da faixa em sua testa e formavam dois pares de asas. Seu pescoço ostentava um colar feito com presas de animais, enquanto, em sua perna, havia uma tornozeleira de penas.

Agora sim parecia um verdadeiro guerreiro Maori, e não o administrador de um resort.

— Eu sei o que estão pensando – ele falou, carismático. – "Como ele consegue ficar tão bem mesmo vestindo uma saia de folhas?"

A plateia riu.

— Nem eu mesmo sei! Mas se os deuses me fizeram assim, quem sou eu para não aproveitar, hein? – brincou. – Bom, mas esta noite não pode ser só sobre mim. Vamos então à parte interessante!

A música de fundo foi trocada por uma de suspense.

Hau apontou para si mesmo.

— Esta era a roupa do chefe da minha tribo. Pertencia ao meu tataravô: um valente homem que, junto ao seu povo, remou pelas águas do Oceano sem fim. E quando digo sem fim, quero dizer centenas e centenas de milhas!

Hau contava tudo com uma certa teatralidade, o que fazia a plateia ficar cada vez mais atenta.

– Talvez vocês não saibam, mas o povo Maori era feito de viajantes do mar. Exploradores!

Eu estava cada vez mais interessada.

— Nós navegávamos de ilha em ilha, procurando o nosso lar. Até que nós encontramos a terra da grande nuvem branca. Esse foi o nome que nossos antepassados deram. Hoje, ela é mais conhecida como Nova Zelândia.

O vento fez as palmeiras se agitaram do lado de fora, o que trouxe ainda mais intensidade às palavras de Hau.

— Eu e minha família viemos da Nova Zelândia para os Estados Unidos com um sonho! Ter um negócio que levasse a cultura do nosso povo ao mundo. Foi quando minha maravilhosa esposa, Perséfone...

Ele apontou para uma das mesas, onde uma mulher de longos cabelos escuros, coroa de flores na cabeça e tatuagem no queixo, acenou para o público.

— Deu a ideia de abrirmos este resort. O Terra Dourada é o nosso sonho e a nossa casa. Vivemos a cultura indígena e a apresentamos a vocês todos os dias!

Todos bateram palmas.

Me senti estranhamente orgulhosa de Hau e sua família. Quase como se eu tivesse ciência de todas as lutas e dificuldades que passaram até chegar ali.

— Mas chega de enrolação! Vocês vieram aqui para se divertir e é isso que irão fazer – garantiu o dono do resort, ajeitando o microfone de lapela. – Esta noite, terão o enorme prazer de me ouvir cantar!

— Arrasa, irmãozinho! – gritou um homem da mesma mesa que Perséfone.

Parecia mais velho que Hau, menos musculoso, e com um sorriso travesso nos lábios igual a uma criança.

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora