5. Grey

416 100 398
                                    

Se olhares fossem veneno, o que Tylor nos lançou após o final da carta seria arsênico.

Eu me lembrava de quando as fotos íntimas tinham vazado, pois a escola praticamente se dividiu: uma parte dos meninos passavam horas conectados ao site da escola, olhando o corpo de Tylor, enquanto a outra parte dava graças a Deus por não namorar com uma garota daquele "tipo". As meninas – bem, a maioria – exigiam uma postura da escola quanto a isso, querendo descobrir quem fora o responsável pela exposição (e se possível, linchá-lo).

Havia aquela minoria das estudantes que torciam o nariz diante das fotos de Tylor, tecendo comentários amargos e a culpando pelo que tinha acontecido.

A postura decidida e confiante que a garota ostentava desde o dia que aprendera a falar, sumiu. Sempre que pisava na escola, o corredor se enchia de cochichos e risadas abafadas. E acho que não ajudou em nada o fato de seu pai ser pastor.

De qualquer forma, todos estávamos atônitos com a revelação da carta. Sadie pôs a mão sobre a boca, em choque. Eu não fiz questão de esconder minha perplexidade, embora uma voz dentro da minha consciência insistisse "Não foi Danielle! Não pode ter sido!". Estava tudo confuso, inacreditável e enjoativo. Eu queria falar, mas parecia que tinha esquecido de como fazer isso.

Tylor tinha sido humilhada no colégio. Óbvio que estava brava. Brava não, furiosa. Em um movimento, arrancou a carta da mão de Sadie e leu tudo com os próprios olhos, desesperada. A loira ergueu o papel entre os dedos e questionou:

— Isto é sério?

Sadie demorou, mas assentiu com a cabeça.

Tylor começar a rasgar a carta em vários pedaços diferentes não me surpreendeu. Uma veia em seu pescoço se tornara saliente, indicando que um ataque de raiva estava prestes a acontecer.

— Vagabunda – rosnou. – E pensar que eu a considerava minha amiga!

Em seguida, deu um riso forçado – como se tivesse acabado de escutar a piada mais sem graça do mundo – e murmurou:

— Tudo por uma vaga de capitã.

Sadie olhou para mim e em seguida para Tylor, como se esperasse que eu dissesse algum consolo milagroso para a líder de torcida. Porém, me encontrava mais inútil do que uma parede enquanto tentava dar sentido aos meus pensamentos.

Tylor sentou em um assento, cabisbaixa, e Sadie se pôs ao seu lado.

— Sinto muito. De verdade. Sei que deve estar em choque e não tiro sua raz...

A filha do pastor levantou um rosto retorcido em sua direção.

— Por favor, Jole. Não se faça de santa.

— Hã...como é?

— Você era a melhor amiga dela! Vai mesmo querer que eu acredite que não sabia sobre isto?! – Mostrou um resto da carta rasgada entre seus dedos.

— Juro! Danielle nunca me falou nada a respeito! – a garota negra defendeu-se.

Saindo do meu próprio estado de choque, entrei em defesa da menina de cabelos cacheados:

— Tylor, Danielle me contava praticamente tudo, e nem eu sabia disso. – Apontei para o chão, onde residia os restos mortais da carta.

A líder de torcida se levantou tão rápido quanto um gato.

— Olha, podem parar com esse teatro, okay? A merda já foi feita! Danielle vazou meus nudes para o colégio inteiro! Por acaso fazem ideia do quão traumático aquilo foi? Passei meses aguentando piadinhas imundas, fora as críticas, né? Porque se você nasceu com um par de peitos, deve se responsabilizar por sua imagem! – ela recitou, com ironia, uma frase que deve ter ouvido na época. – Meu pai me trancou em casa e só me deixava sair para a escola e o culto. E tudo por quê?

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora