— Que se foda! Eu não vou fazer um Black Power! – Malcom se negou pela oitava vez desde que tínhamos entrado no carro.
— Martin Luther King estaria envergonhado! – sentenciou Cal, fazendo a dupla função de dirigir e gesticular para dar ênfase em seu discurso.
— Não ponha Martin nisso. Eu só não quero fazer um Black Power com você. Não somos gêmeos para andar por aí iguais!
Poucas coisas me faziam rir como observar meus irmãos discutirem sobre seus futuros visuais. Como dois caras afro-americanos, altos, de pele retinta, que estavam sempre enaltecendo suas raízes, ir à barbearia era tão sagrado quanto ir à igreja.
E levando em conta que Cal estava tentando ser uma estrela do rap, sua cultura era algo que amava ostentar.
— Você é um péssimo irmão. Quer saber? É isso! Não vou mais assistir seus jogos de basquete! – revoltou-se Cal, fazendo o carro virar em uma esquina, obtendo o píer como horizonte.
— Cara, se continuar com esse drama, vou virar o volante e fazer esse carro afundar no mar!
— Não, por favor! – me manifestei pela primeira vez na discussão. – Pelo menos, esperem eu descer.
O carro parou uma calçada antes da praia de Pacific Beach. Como sempre, estava cheia de pessoas.
— Tudo que ouvi foi "Vocês podem morrer, contanto que o óbito dos dois não atrapalhe meu encontro com Greyson!" – Cal fez uma voz fina que supostamente seria a minha.
Revirei os olhos, não necessariamente chateada.
— Eu passei a vida vendo vocês dois irem em encontros. Agora é o meu momento!
Não ter uma grande coleção de histórias de encontros para contar não era algo que me envergonhava. Na verdade, achava até legal poder ter esse tipo de experiência com alguém que eu já amava.
Existia coisa mais clichê para o jovem californiano do que ir a um encontro na praia? Absolutamente não. Mas eu adorava um bom clichê, como por exemplo, vestir a sua melhor roupa, fazer um bom skincare, e mudar o cabelo só para ver a pessoa que faz seu coração bater mais rápido.
Durante quase todo verão, Grey me viu com os cabelos cacheados. Hoje, ele veria minhas mechas se interligando a tranças que desciam até a cintura, como as de uma sereia africana.
— Bom, espero que seja uma tarde inesquecível, maninha – desejou Cal. – E é bom aproveitar antes que Grey se mude para o outro lado do país.
Ele tinha sido aprovado na Universidade de Columbia, em Nova York (sua cidade natal). Claro que eu tinha ficado feliz com a notícia, afinal Columbia era famosa por seus programas esportivos e pelas competições. Era o primeiro passo para o sonho de Grey: se tornar atleta profissional de natação! Como não poderia ficar feliz por ele?
— Greyson mereceu a bolsa. Além disso, não vai ser tão longe...
— É. Entre vocês só vai existir os estados do Arizona, Novo México, Oklahoma, Missouri, Indiana, Ohio...
— Já entendi, Malcom.
Abri a porta do carro e peguei minha bolsa. Estava prestes a atravessar a calçada quando Cal me chamou.
— Só me responde uma coisa. Você escolheu as tranças azuis... – Ele fez uma expressão cúmplice. – Para combinar com os olhos dele, não foi?
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Decepção de verão
RomanceGreyson Hayes tinha tudo planejado: se formar no colégio, entrar para a faculdade, e pagar um aluguel razoavelmente barato no apartamento que dividiria com sua namorada. Porém, um câncer entrou no meio de seus planos. Um ano após a morte de Danielle...