Abri os olhos quando as luzes da manhã invadiram o quarto. Tinha esquecido de puxar as cortinas na noite passada, o que provavelmente me custara uma hora a mais de sono. Passei a mão pelo rosto, tentando afastar o peso das pálpebras, e olhei o ambiente a minha volta.
Me encontrava no chalé, mais especificamente no quarto. Minha mala estava encostada no canto, meus livros espalhavam-se sobre a mesa e havia algumas roupas largadas no chão. Tudo estaria dentro do comum se não fosse pela garota deitada ao meu lado, dormindo.
Os cabelos ondulados se espalhavam pelo travesseiro. Ela dormia de lado, com o lençol fino destacando as curvas de seu corpo. Só então reparei que uma das roupas caídas no chão era seu vestido. O vestido que eu tirei ontem à noite.
Okay, ainda estou dormindo?
Respirei fundo – aspirando o aroma de baunilha dos lençóis – e forcei minha mente ressacava a pensar em algo. Faltavam algumas cenas na minha cabeça, então precisei retornar ao começo do filme...
A memória mais antiga era de mim mesmo caminhando em direção a Rosa. Seu vestido se encostava no tronco de uma árvore enquanto ela, descontraidamente, puxava um maço de cigarro da bolsa. As luzes enroladas como serpentes nos galhos da árvore me faziam lembrar uma galáxia em que ela era o sol.
Me aproximei, parando ao seu lado.
— Está estressada? – perguntei me referindo a urgência em que tragava.
— De forma alguma, mi hijo. Eu fumo quando estou feliz, quando estou triste, comemorando...
A fumaça escapava de seus lábios lentamente.
— Entendo bem isso – sorri. – E o que está comemorando?
— Que tal o fato de que estou revendo meu filho de alma? Ou que minha Marella esteja voltando da França depois de amanhã? Se parar para pensar bem, tenho motivos o bastante para fumar uma cartela inteira – falou daquele seu jeito brincalhão, piscando para mim.
Apoiei a mão no galho mais baixo e a porto-riquenha afastou o cigarro da boca, como se raciocinando.
— Dom.
— Sim?
— Eu não fui sua inspiração para começar a fumar não, né?
— Pode ficar tranquila, Dona Rosa – ri. – O estresse foi minha inspiração.
— Ah, que bom – disse, tragando mais uma vez. Seus olhos lacrimejaram pela fumaça. – Quer dizer, fico aliviada por não ser a influência do seu tabagismo. Mas já sabe: não às drogas.
Rosa era o oposto de Meredith Hoer. Se uma era tranquila e leve como uma brisa de verão, a outra era uma tempestade gelada. Enquanto crescia, minha mãe me deu boa educação e dinheiro, mas atenção não era uma de suas prioridades. Isso ficava claro quando esquecia de comparecer na reunião dos pais ou nos dias em que Rosa faltava ao serviço, quando, sem tirar os olhos do celular, Meredith apontava para a cozinha e resmungava: Não tem almoço. Façam um sanduiche de pasta de amendoim.
Eu odiava pasta de amendoim.
A festa ainda acontecia. Tessa estava sentada à mesa com a mãe, mas se olhares fossem flechas, já teria matado Alice um milhão de vezes. Claramente a única coisa que a impedia de estar aproveitando a noite ao lado da engenheira, era a presença de Maria.
Jun – avó de Éric – estava sentada conversando com Hau e os demais pais. Não sei o que a idosa falava, mas conseguia arrancar gargalhadas de todos na mesa. Como convivendo com uma mulher tão divertida Éric havia se tornado um garoto tão sério, era uma boa pergunta.
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Decepção de verão
RomanceGreyson Hayes tinha tudo planejado: se formar no colégio, entrar para a faculdade, e pagar um aluguel razoavelmente barato no apartamento que dividiria com sua namorada. Porém, um câncer entrou no meio de seus planos. Um ano após a morte de Danielle...