Se existia algo que não combinava com o desespero, essa coisa era a teimosia. Tessa havia ficado em cativeiro durante horas, sem comida ou água, seus pulsos estavam machucados e os lábios cuspiam sangue. Apesar disso tudo, a artista se recusava a ir embora.
— Só por cima do meu cadáver! – declarou.
— Tessa, não tem como continuar se arriscando! Você precisa ir para casa e cuidar dos machucados – tentei lhe explicar, mas tudo que consegui foi um cruzar de braços e uma sobrancelha erguida.
Até Sadie buscou convencê-la, mas a garota afro-americana não tinha a firmeza de costume na voz. Tessa permaneceu irredutível e disse que não tinha passado por tanta merda para no final voltar para casa, pois o que quer que Danielle quisesse lhe dizer, faria parte de sua história.
— Eu não tenho passado! Não sei quem sou agora e não tenho perspectiva de um futuro – afirmou com certo desespero. – Sei que pode parecer sem importância, mas precisam me escutar! Vocês todos são resultado da história que viveram, enquanto eu nem conheço a minha. Não tenho ideia de quem é Tessália Flores!
— Elipse – disse Alice, nos fazendo encará-la em busca de uma explicação. – É a omissão que pode ser entendida graças ao contexto da frase. Vocês sempre vão saber quem são ainda que se percam no meio do caminho, porque conhecem suas histórias. Sempre vão conseguir reconhecer a si mesmos, mas Tessália não pode se achar sem um contexto.
Apesar de tudo, consegui entender o raciocínio das duas. Acho que viver sem saber quem é, seria como morrer duas vezes. Tessa estava morta a alguns anos.
— E não querendo iniciar um motim – começou Alice, bagunçando a franja –, mas se decidirem não a levar até a carta, eu levo. Vamos encontrá-la com ou sem vocês.
O olhar que Tessa lançou a engenheira foi de puro agradecimento e algo mais. Sadie e eu nos entreolhamos, discutindo silenciosamente quanto a que decisão deveríamos tomar. Era como um jogo de tabuleiro em que um movimento poderia mudar todo o rumo da história.
Quando Sadie fez um gesto com o queixo, entendi que estava entregando a mim o total direito de escolha. Cruzei os braços e dei um suspiro antes de declarar:
— A carta é de Tessa. Acho que a ler ou não, é seu direito.
— Sério? – questionou Tessa.
— Sério, Grey? – reforçou Sadie, me fuzilando.
A mexicana abriu um sorriso avermelhado e Alice segurou em sua mão. Sadie puxou a calça mom jeans para cima, pôs no rosto sua melhor expressão de "eu acho que vai dar merda e se isso acontecer, vou esfregar na cara de todo mundo" e foi em direção ao carro dizendo:
— Nesse caso, não temos tempo a perder.
— Para onde vamos? – perguntei, a seguindo.
— Balboa Park. Não é muito longe daqui – respondeu.
Tessa e Alice atravessaram a rua de mãos dadas.
— Mais um ponto turístico para as minhas férias! – comemorou a engenheira.
— O palhaço não nos seguiria até um lugar tão conhecido, não é? – Tessa indagou.
— Não sei. – Sadie abriu a porta ao lado do motorista. – Mas eu acho que vai dar merda e se isso acontecer, vou esfregar na cara de todo mundo! – E sentou-se ao lado de Giles.
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Decepção de verão
RomanceGreyson Hayes tinha tudo planejado: se formar no colégio, entrar para a faculdade, e pagar um aluguel razoavelmente barato no apartamento que dividiria com sua namorada. Porém, um câncer entrou no meio de seus planos. Um ano após a morte de Danielle...