Miguel Dalla-Riva
5 anos antes da aventura.
O meu nome é Miguel. Ele aparece cinco vezes na Bíblia e significa "Quem é como Deus". Talvez por uma fé inabalável ou simplesmente porque minha mãe tem a Bíblia como seu livro favorito, mas todos os seus filhos herdaram nomes das escrituras sagradas. Acho que ela acreditou que assim aproximaria sua família de Deus.
Gosto do meu nome, mas ao mesmo tempo sinto ser uma grande responsabilidade. As pessoas em Water Falls – uma cidade pequena do Oregon – esperam que você seja tão bom ou tão perfeito quanto um anjo, e não é que eu não acredite que possa ser, mas há dias em que é difícil viver como um garoto de treze anos em uma família conservadora do século vinte e um.
Escutei o som do metal abrindo e fechando enquanto fios dourados caíam no chão. Minha mãe largou a tesoura sobre a mesa e colocou o espelho diante dos meus olhos, para que pudesse ver o resultado de seu trabalho.
— Gostou, querido? – Ela já tinha certeza da resposta.
— Sim.
Meus cabelos estavam curtos, acima da linha da orelha, e sem oportunidade de formar ondas. O mesmo corte que todos os homens da casa usavam.
— Mas por que estamos sempre cortando o cabelo?
— É mais bonito, Miguel. – Ela guardou a tesoura em uma gaveta. – Meninos usam o cabelo assim.
Eu não podia ir contra aquela teoria. Em Water Falls, parecia ser regra que todos os homens usassem o cabelo quase raspado.
Ainda assim, desafiei:
— Está dizendo que não gosta dos meus cachos.
— É claro que eu gosto! – replicou.
— Então por que sempre corta eles?
— Meus filhos são bonitos de todo jeito. – Foi sua forma de encerrar a conversa.
— Tem certeza? – perguntou Gabriel do sofá da sala. – Acho que alguns não tiveram tanta sorte. Não é, Miguel?
Gabriel (ou Gabe) era o último mais velho, ou seja, o quarto filho antes de mim. E levando em conta que já eram traços de sua personalidade não levar nada a sério, era fácil me desentender com ele. Seu comentário idiota iniciou uma disputa de implicâncias e xingamentos, que nossa mãe encerrou com:
— O pai de vocês vai chegar logo da plantação. Miguel, chame seus irmãos para a mesa. Gabriel, pegue uma vassoura e varra esse cabelo do chão – ordenou Mary Krystal, indo em direção a cozinha quando uma panela começou a fazer barulho.
— Por que eu? – lamentou-se Gabe por ter que sair da frente da TV.
— Se olhe no espelho e vai entender! – provoquei.
— Agora, Gabriel! – A voz de Mary Krystal costumava ficar bem assustadora quando tinha que repetir algo.
Ele arrastou-se até a vassoura e eu disparei escada acima.
Nós morávamos em uma casa colonial antiga, grande o bastante para precisarmos gritar pelos cômodos para nos encontrar às vezes. Para a minha sorte, quando não estavam cumprindo com as tarefas diárias, meus irmãos se isolavam nos quartos. Passei pelo corredor batendo nas portas fechadas.
No lado oposto do corredor, havia um grande retrato de família tirado no ano passado. Meus pais estavam no centro do pórtico, de mãos dadas, enquanto os filho se posicionavam em volta: cinco meninos. Dois deles eram idênticos – Elijah e Isaiah, os mais velhos depois de Jeremy.
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Decepção de verão
RomanceGreyson Hayes tinha tudo planejado: se formar no colégio, entrar para a faculdade, e pagar um aluguel razoavelmente barato no apartamento que dividiria com sua namorada. Porém, um câncer entrou no meio de seus planos. Um ano após a morte de Danielle...