4. A primeira carta

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Querida Tylor Collins Loveroy,

Talvez eu esteja delirando ao pensar que escrever esta carta é uma boa ideia. Provavelmente eu só tive um surto de adrenalina e agora estou fazendo algo que (possivelmente) irei me arrepender. Mas sendo bem honesta? Não sou tão positiva quanto as blogueiras do Instagram, e sei que não devo ter muitas chances de cura contra a leucemia. Então, já que vou perder esta batalha, vou fazer isso em grande estilo.

Bom, Tylor, sua carta começa no dia em que fizemos o teste para a vaga de capitã das líderes de torcida. Lembro que no dia do teste você estava de ressaca (de alguma das milhares de festas que você ia ao longo da semana), e mesmo assim conseguiu ganhar de mim. Sem ofensas, mas acho humilhante o fato de que você tinha passado a madrugada enchendo a cara de vodka, e mesmo assim conseguiu fazer uma estrela perfeita – enquanto eu (que estava mais sóbria do que uma freira) me desequilibrei e caí sentada.

Bum! Um vacilo: a vaga foi para Tylor Collins.

Enquanto dirigia até a sua casa (onde ocorreria sua comemoração de vitória) pensei diversas vezes se devia mesmo ir para uma festa no meio da semana, para festejar o fato de ter perdido um dos meus maiores objetivos, quando tudo que eu queria era jogar o meu sedã do alto de um penhasco (comigo junto, de preferência).

"Você consegue, Danielle. Você pode entrar lá e ser uma boa perdedora. Só...sorria!" falei olhando para o meu próprio reflexo no retrovisor do carro.

Caminhei até a porta da frente e toquei a campainha. Enquanto esperava ser recebida, notei uma movimentação nos arbustos e, para meu desprazer, eram duas pessoas...bem, se divertindo.

"Ai, meu deus!" O dia não podia ficar pior.

"Danielle! Oi!" exclamou Clarke, uma das garotas da equipe de torcida. "Não achei que você vinha mesmo!"

"Clarke! Mas que merda é essa...?" questionei e o parceiro da morena saiu do esconderijo de folhas. Acredita que era um dos garotos da Lest Prince High? (a escola que era uma das nossas maiores rivais no Lacrosse).

Graças a deus você abriu a porta, me livrando de ter que dar um sermão a uma Clarke quase nua sobre o porquê transar com garotos da Lest Prince era, terminantemente, proibido na nossa equipe de animadoras.

"Danielle! Você veio! Achei que não ia aparecer" você revelou, parecendo tão eufórica quanto alguém que já tinha tomado cinco drinks seguidos (o que provavelmente havia acontecido).

"Por que todo mundo achava que eu não viria? Eu tinha que prestigiar a minha nova capitã" falei, tentando não deixar minha expressão de remorso vir à tona.

Você me convidou a entrar, o que fez com que eu me deparasse com a sua seita!

Okay, seita pode ser um substantivo exagerado, mas ali – na sala de estar de um dos pastores mais renomados de San Diego – estava acontecendo tudo o que as regras da equipe proibiam: bebida durante a semana, cigarros e garotos.

"Tylor, as animadoras não podem se desgastar no meio da semana. Você me disse que essa festa seria tranquila!" repreendi, pensando em dar meia-volta e ir embora.

"Festa? Isso aqui é só uma reuniãozinha íntima!" você respondeu ainda exalando alegria.

"Não me venha com bordões de Phineas e Ferb!" Eu podia estar sendo chata, mas não estava nem aí. Eu levava a equipe de torcida a sério, e aquele momento só serviu para reforçar meu pensamento de que a garota errada tinha ganhado o posto de capitã. "Tylor, elas têm treino amanhã. Nós temos!" Especifiquei. "Não podem aparecer ressacadas. Além disso, que tipo de atleta fuma cigarro?"

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora