13. Grey

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Eu não sabia quem havia ligado para Sadie e nem o que tinha dito, mas essa pessoa conseguiu deixá-la uma pilha de nervos. A garota de cabelos cacheados falou um pouco ao telefone, gesticulou muito, e quando desligou o aparelho se virou para o restante de nós e disse que havia um lugar que precisava ir antes da próxima carta.

Já no carro, criei coragem para perguntar aonde iriamos (mesmo sabendo que quando Sadie estava tensa sua língua se transformava em uma navalha). Porém, por algum motivo, ela decidiu me poupar de uma resposta hostil:

— Pacific Beach. O pessoal da banda quer me encontrar para conversar algo, supostamente, importante – explicou, nem um pouco satisfeita.

Permita-me dar uma de guia turístico: P.B. (como é carinhosamente chamada pelos moradores), além de um importante bairro, é uma das praias mais conhecidas da Califórnia. Com um calçadão de mais ou menos cinco quilômetros, a praia é bastante valorizada por jovens e turistas. Além de ter uma agitada vida noturna com muitas baladas, restaurantes e bares.

Nas férias, Liam e eu gostávamos de ficar na praia até o final de tarde, quando calçávamos os tênis e íamos bater perna pelo bairro descontraído, à procura de uma lanchonete, fliperama, ou qualquer lugar que nos proporcionasse diversão (o que não era muito difícil em P.B.). Infelizmente, nossa tradição acabaria quando um de nós fosse para a universidade – o que só tornava o assunto "faculdade" ainda mais irritante para mim.

Depois do que pareceu uma eternidade, Sadie estacionou a van.

O vento que entrava pela janela trazia o cheiro salgado da maresia. Pessoas caminhavam pelo calçadão descontraidamente, mesmo com o azul do céu esmaecendo e o sol iluminando a cidade com um tom laranja vivo. Contudo, para Pacific Beach, o fim do dia não significava o fim da diversão.

Sadie desceu do carro retirando o seu blazer de brechó. Parecia apressada, embora eu não entendesse muito bem o porquê. Ela apoiou a mão na capota do carro e perguntou:

— Conhecem o Disco Bar?

— Não é uma lanchonete temática? – indagou Paige, descendo da van.

— Deixa eu adivinhar! Pelo nome, o tema é discoteca – adivinhou Miguel, tamborilando os dedos no vidro do carro, ao ritmo de alguma música que só ele sabia.

Abandonei o banco do passageiro e caminhei até Sadie, parando ao seu lado.

— A banda vai se reunir por lá?

Ela fez que sim com a cabeça.

— Não faço ideia do porquê marcaram esse encontro de última hora. Se for por causa da van, Jake me disse que poderia usá-la! – protestou.

Eu não sabia muito sobre os Largados e Confusos. O pouco que era do meu conhecimento se limitava à:

1. banda que ensaiava na garagem.

2. Se apresentava com covers.

3. Tinha como maior patrimônio uma van grafitada.

— De qualquer forma, não posso ir assim! – exclamou, apontando para si mesma. Ainda estava vestida como uma falsa empresária. – Vão zoar com a minha cara e a última coisa que preciso é dar um soco em alguém.

Não sabia se ela estava brincando ou falando sério, mas acho que todos estávamos de acordo que seria ruim Sadie dar um soco em alguém. Isso poderia atrasar nossos planos.

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora