54. Grey

88 19 11
                                    


Greyson, esta é décima quarta mensagem que deixo na sua caixa postal. Eu sei que está escutando isso, seu banana! Atende a porra do telefone!

A forma como meu irmão demonstrava sua preocupação e afeto era, no mínimo, singular. Sim, estava ignorando as mensagens e ligações de Garnett. O motivo? Não estava em um bom momento para escutar perguntas e ter que mentir na resposta de todas. Parecia que ultimamente era só isso que vinha fazendo.

Havíamos parado para abastecer. Sadie estava na mangueira do posto, colocando gasolina na Ferrari, enquanto o restante do grupo havia se dirigido a lojinha de conveniências em frente. Mesmo com a porta do carro aberta, o cheiro de gasolina se fazia mais presente do que o ar fresco, e isso não necessariamente me incomodava. Uma música qualquer tocava no rádio.

— Papai falou que você arrumou um emprego de verão. Que história é essa? Você nunca nem vendeu limonada na vizinhança! – continuou a gravação de Garnett.

— Você nunca trabalhou na vida? – perguntou Sadie, surpresa e se aproximando.

— E você já? – repliquei.

— Dã! Eu tinha uma banda, lembra? – Ela apoiou o braço na porta escancarada. – Eu não cantava de graça! Cinquenta dólares por apresentação – recordou.

A gravação do meu irmão continuou:

— Já que você não me atende vou ter que contar as novidades para a sua caixa postal. Lisa está se apossando do seu quarto e transformando-o em um...

— Na verdade eu já trabalhei em...Espera, do meu quarto? – Me assustei com a hipótese de alguém invadir meu santuário. – Eu vou matar Elizabeth!

Sadie não conteve a risada e eu tive que me segurar para não ligar para casa imediatamente, gritando para que minha irmã não encostasse um dedo nas minhas coisas. Joguei o celular no banco de couro supercaro de Dominic e me levantei, ficando mais alto que a garota de cabelos cacheados.

— Para onde estamos indo? – perguntei.

— Igreja Coração Imaculado.

Dentro da loja de conveniências, nossos amigos experimentavam óculos engraçados de um expositor. O homem atrás do caixa os encarava, nada feliz. Talvez por já ter entendido que não comprariam coisa alguma.

— A carta é de Miguel, não é? – apostei e Sadie confirmou com a cabeça.

Ela cruzou os braços que, àquela altura, colecionavam pequenas cicatrizes como lembranças de sua luta com a garota Death Angel. Pelos menos o hematoma em seu rosto havia sumido completamente e ela teria uma grande história para contar aos netos.

Na minha juventude, eu caí no soco com uma gangster e lhe arranquei um dente!

É, sem dúvida Sadie seria a avó legal.

— Realmente não consigo imaginar o que Danielle falaria para ele – ela admitiu.

— Nem eu.

Sadie notou algo em minha expressão que a fez perguntar:

— Está tudo bem, Grey?

— Acredita em intuição? – Lhe devolvi a pergunta.

Ela tentou dar um sorriso.

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora