18. Tessa e Grey

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Eu observava as pessoas andando pelo quarto, nervosas. A impressão que tive era de que tinha amarrado uma granada ao meu corpo, e eles estavam decidindo como se livrar dela antes da explosão.

Abracei minhas pernas como uma criança, temendo o momento que teria que dar explicações. Droga, por isso estava sempre quieta! É muito mais fácil lidar com as pessoas quando você não precisa falar nada.

Consegui concluir o ensino médio sem dizer nada além de um "bom dia". Supostamente, deveria conseguir passar um dia inteiro com pessoas que estudaram comigo e não sabiam absolutamente nada sobre mim. Mas agora, tinha tido um ataque epiléptico na frente de todo mundo, o que me deixou sem desculpas e sem saída.

Todos estavam presentes com exceção de Grey. O ambiente era inteiramente decorado com acessórios da Disney, então presumi que aquele fosse o quarto do menino brasileiro, Luís. Em cima da escrivaninha, estatuetas de Mickey, Donald e Pateta me encaravam com piedade. Eu estava entre concordar com elas ou acertá-las com o abajur.

Sadie sentou-se na beirada da cama e me olhou com certa gentileza.

— Como está se sentindo?

Hesitei antes de responder:

— Ótima.

— Desculpe por ter gritado. Não queria deixá-la estressada. – Parecia realmente arrependida, quase como se acreditasse que a culpa era toda sua. Minha mente ainda estava nebulosa.

— Por que diz isso?

— Crises de epilepsia podem ser desencadeadas por vários fatores. Entre eles, o estresse – explicou Éric, como um médico experiente.

— Ah. – Foi minha brilhante reação.

Paige sentou-se ao meu lado.

— Por que não nos contou?

O que eu deveria dizer? Ei, grupo de pessoas que estudou comigo, mas que não tenho qualquer intimidade! Sabiam que eu tenho uma doença neurológica? É, pois é. Tenho crises de ficar tremendo no chão e revirando os olhos, mas não é sempre.

Não, claro que não. E os olhares de pena que estavam me lançando só piorava tudo.

Tentando soar banal, resmunguei:

— Não achei que acabaria tendo uma crise. Acontece.

— Você toma remédios? – perguntou Miguel, encostado no batente da porta.

Abri a boca para responder, e foi quando me lembrei que a cartela ainda estava no meu bolso. Intacta.

— Hum, bem eu...esqueci.

Éric puxou a cadeira da escrivaninha e sentou-se com o peito no encosto, como um detetive que quer entender o caso.

— Como assim? Esse não é o tipo de coisa que se esquece.

Tantas perguntas e tantas respostas que precisava dar...Minha mente começava a esgotar o resto de energia que havia sobrado. Não conseguia raciocinar ou formular uma resposta que sinalizaria "tenho um problema, mas não preciso de ajuda. Tchau, fiquem com Deus!".

Olhei nos olhos de cada pessoa ali até me sentir rendida. Não havia escapatória, então suspirei e disse a verdade:

— Eu não lembro quem sou.

Todos me olharam como se tivesse acabado de falar chinês. Parecia uma filosofia de boteco ou talvez uma piada – embora não houvesse nada de engraçado naquilo. Eu realmente não lembrava da minha vida.

Miguel deixou os braços caírem com certa impaciência.

— Até eu já dei desculpas mais convincentes.

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora