37. Tessa

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Me posicionei em frente ao espelho e virei para o restante da turma. A quantidade de olhos que me encaravam era intimidante e o suficiente para me fazer desejar sumir. A sensação era a mesma de quando tinha que apresentar um trabalho na escola – o que só conseguia após três crises de choro, uma aspirina e uma barra de chocolate.

Respirei fundo e tentei lembrar que não estava diante de um bando de adolescentes. Minha reputação não estaria arruinada se fosse tudo um desastre.

Sufocando meu nervosismo, sorri.

— É um prazer estar aqui hoje! Meu nome é Tessália e serei sua professora de dança – me apresentei.

Arona – irmã de Homai e Hau – estava sentada em uma cadeira à minha esquerda, de frente para a turma, como se quisesse avaliar o resultado da minha aula.

Por alguma razão, ela se vestia como se estivéssemos nos anos oitenta: usava um body roxo por cima da meia-calça azul, e grandes polainas cor-de-rosa nos tornozelos. Parecia saída de algum vídeo de exercício do século passado.

— À título de curiosidade, Tessália veio do México. Mais especificamente, da cidade de Monterrey. Ela vai ser meu apoio nas aulas – Arona avisou aos hóspedes vestidos com legging e lycra. – Estou muito feliz de ter uma ajudante especialista em ritmos latinos!

Uma mulher levantou a mão.

— A aula de hoje será tango? – perguntou ansiosa.

— Na verdade – peguei o celular e selecionei a música –, hoje vamos dançar bachata.

Quando Arona veio até mim, tive sérias dúvidas com relação a sua proposta de trabalho.

Perséfone havia dito que tinham encontrado a tarefa ideal para mim, e por um breve momento sonhador, torci para que tivesse algo relacionado a pintura. Talvez me colocassem para desenhar caricaturas dos hóspedes ou qualquer outra atividade não menos artística!

Porém, Arona marchou até mim e perguntou:

— Sabe dançar estilos latinos?

Um pouco intimidada, respondi:

— Er...sim?

Minha mãe sempre gostou de noites de dança em família.

— Ótimo! É bom trazer um pouco de gingado para as minhas aulas! – exclamou alto. Não demorei a entender que falar gritando era o jeito de Arona demonstrar animação.

A música começou a tocar no salão. Soltei o celular e voltei minha atenção para a turma. Algumas pessoas sorriam, outras acompanhavam a batida com o corpo, e ainda outras pareciam nervosas em dançar um novo estilo na frente de todo mundo. Me simpatizei com estas.

— A bachata é um ritmo musical e uma dança originada na República Dominicana. Seu ritmo tem mais a ver com sedução do que romance. E me desculpem os tímidos, mas essa é uma dança que envolve duas pessoas – falei, tentando fazer minha voz chegar ao fundo da sala. – Formem pares, por favor!

Imediatamente os hóspedes me obedeceram. Era estranho me sentir na liderança, já que normalmente eu era a pessoa que acatava as ordens e tentava não atrapalhar.

Minha timidez vinha do medo de que descobrissem sobre a Epilepsia e a perda de memória, mas ali ninguém sabia quem eu era e nem precisava saber. Estava livre para me expressar.

Fui demonstrando, na frente do espelho, os passos comuns para se dançar bachata. Expliquei que ninguém deveria ter receio de mover os quadris e que a vergonha precisava ser deixada de lado (conselho que eu mesma não seguia). Em pouco tempo, todos na sala estavam ao menos se esforçando para dançar da melhor forma possível.

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