9. Grey

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Eu tinha ansiedade diagnosticada, então sabia que em algum momento daquele dia uma crise era bem possível.

Na primeira oportunidade, sentei nos últimos bancos da van com o objetivo de ficar longe de Sadie, certo de que aquela distância poderia ajudar na sensação de angústia que começava a apertar meu peito. Todavia, a inquietude não deu sinal de melhora.

O seu problema não é Sadie, pensei comigo mesmo. Ficar longe dela não vai resolver o que está sentindo.

O problema era Danielle e suas cartas misteriosas. Para a minha imaginação, a garota da primeira mensagem não tinha o rosto de Danielle, já que suas atitudes não condiziam em nada com as da menina que conheci. Chegavam a parecer serem de outra pessoa, outra garota. Poderia ser esse o caso?

Mas era o nome dela no final da carta, lembrei mais uma vez.

Merda. Precisava me distrair.

Dominic estava na outra ponta do banco, encarando a paisagem de sua janela e usando fones sem fio, alheio ao resto do mundo. Eu não sabia que tipo de música o herdeiro gostava, mas só precisava ocupar minha mente independente do estilo musical. Precisava me prender em outro mundo, assim como ele estava fazendo.

— Ei – Toquei no seu braço, e a primeira sensação que tive foi a de estar ultrapassando um limite –, o que está ouvindo?

— Música.

— Não sei se isso foi uma resposta objetiva ou ironia.

— A primeira opção – suspirou, tocando em um dos fones. – É a minha forma de acalmar os pensamentos.

— Também está estressado? – perguntei, grato por me identificar com alguém. Era bom saber que não era o único com os nervos à flor da pele.

— Quase impossível não estar.

— Posso escutar com você?

Dominic me ofereceu o fone esquerdo, e admito que fiquei surpreso quando meus ouvidos não foram preenchidos por música clássica. O garoto mais rico da Califórnia estava ouvindo Post Malone.

— Não sabia que gostava de rap – comentei.

Dominic deu um sorriso fraco.

— Você sabia alguma coisa sobre mim até hoje?

— Só que é podre de rico.

— Clássico – falou, nem um pouco aborrecido. – Mas sim, gosto. Aprendi a gostar com meu amigo Mark.

Uma cabeça ruiva surgiu sobre o banco à nossa frente.

— Mark Reynolds, ex-capitão do time de lacrosse? Eu já tive um encontro com ele! – revelou Paige.

— Mesmo? Ele nunca me falou nada – comentou Dominic.

— Deve ter ficado com vergonha de contar que uma garota o chamou para sair – replicou a ruiva, dando de ombros.

Aquilo não me surpreendeu, já que Mark e todo o restante do time de lacrosse sempre tiverem fama de conquistadores. Eram blindados por orgulho e uma reputação que, aparentemente, envolvia ser o primeiro a tomar atitude quando estivesse interessado em alguém.

Éric surgiu ao lado de Paige, se juntando a conversa.

— Por que você sairia com um cara que tem vergonha de admitir que uma garota o chamou para sair? – indagou o asiático. Pela sua expressão, deu para ver que considerava caras como Mark babacas.

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora