35. Paige

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Olhei para Éric, do outro lado do balcão, e perguntei pela milionésima vez:

— Onde estão os nuggets em formato de dinossauro da mesa cinco?

O asiático saiu da cozinha carregando uma bandeja. Ele parecia apressado, como se estivesse fazendo dezenas de coisas ao mesmo tempo, mas ainda assim os nuggets estavam fumegantes e cheiravam deliciosamente bem.

— Foi mal. Mas é difícil atender os pedidos de todas as mesas! – se defendeu. – Não acredito que Hau colocou apenas nós dois como garçons.

O resort Terra Dourada oferecia as refeições no modo self-service, mas caso os hóspedes desejassem algo a mais (uma água, molho, ou nuggets de dinossauro) Éric e eu precisávamos estar lá para satisfazê-los.

Nossos uniformes não eram muito...Como posso dizer? Tradicionais. Ao invés de blusas de manga comprida, colete e avental, estávamos usando camisas com estampa de flores tropicais e gravatas borboletas. Éric usava uma bermuda e eu optara pelo meu short jeans. Parecíamos uma dupla de humoristas havaianos, para falar a verdade.

— Chega de negatividade, Vertes! Nós conseguimos servir mesas. Acredite! – brinquei, segurando as bordas da bandeja.

— Espera! – pediu, pegando o frasco de ketchup.

Ele usou o molho para desenhar carinhas felizes nos dinossauros. O olhei e ele explicou:

— Já trabalhei em uma lanchonete. As crianças gostam de rostos de ketchup.

Embora quisesse permanecer séria, não pude evitar um sorriso de admiração. Éric possuía uma sensibilidade ao falar e fazer as coisas, muito rara nos rapazes da nossa idade. Parecia sempre tão maduro que era até estranho nos darmos bem, já que Paige Cloud é a garota menos madura que se pode conhecer.

Levei a bandeja até a mesa que a solicitou e tive o prazer de ver um sorriso se abrir no rosto do garotinho. Ele pegou o nugget de Tiranossauro Rex e mostrou para a mãe.

— Olha, mamãe! Ele está sorrindo para você! – disse apontando para o rosto de ketchup.

— Que legal, não é, Jimmy? – ela sorriu.

O homem que imaginei ser o pai olhou para mim, pediu desculpa pela exigência especial do filho, e explicou que o pequeno Jimmy adorava dinossauros.

— Está tudo bem! – Olhei para Jimmy e falei: — O meu preferido é o Pterodátilo!

A criança olhou para seu prato, pegou o nugget da espécie que falei, e me ofereceu. Lhe lancei um olhar do tipo "tem certeza?" ao que Jimmy respondeu com um balançar de cabeça. Peguei o nugget como se fosse a joia mais preciosa do mundo, agradeci, desejei um bom almoço e voltei para o balcão.

— Pelo visto, fez um amigo – observou Éric, apoiando os cotovelos na bancada.

— Óbvio! Temos o amor por dinossauros em comum – expliquei enquanto mastigava o meu Pterodátilo.

— Você leva jeito com crianças.

Parei de mastigar e encarei o asiático.

— Acha mesmo?

— Bom – ele pegou um pano e começou a passá-lo pela superfície de madeira –, eu nunca recebi um nugget de um menino de cinco anos.

— Éric, você já se imaginou sendo pai um dia?

Sem interromper o trabalho manual, respondeu:

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora