24. Sadie

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Eu sou uma sobrevivente. Não vou desistir.

A música das Destiny's Child preenchia meus ouvidos. Tudo que aconteceu nos últimos dois dias passava pela minha cabeça como um filme, e Survivor era a trilha sonora que transformava tudo em um enredo hollywoodiano.

Era isso: eu me sentia presa em um filme de ação/terror – e não estava gostando nem um pouco.

Grey tinha ido embora, Éric sumiu ao ir atrás dele, e um psicopata estava atrás das nossas cartas (e disposto a nos machucar). Por último, mas não menos trágico, o fato de que deveríamos ter encontrado todas as cartas no dia anterior. O segundo dia já estava terminando e só tínhamos lido três delas.

Eu vou sobreviver e continuar sobrevivendo, repetiu a música.

Tessa parou ao meu lado. Tirei os fones de ouvido, retornando ao silêncio infeliz.

— Desculpa. O que você falou, Tessa?

— Perguntei o que está fazendo – repetiu.

— Ah. Só escutando música e esperando.

— Os meninos?

— Talvez um milagre.

Depois que Éric saiu para procurar Grey, voltamos ao apartamento em Little Italy. A biblioteca não ficaria aberta para sempre e, àquela altura, estar na rua era como andar com um alvo nas costas. Precisávamos tomar cuidado e eu me via na obrigação de manter todos em segurança.

Falhamos miseravelmente nesse ponto, Sadie.

Não sei por quanto tempo fiquei naquela varanda, encarando o final da rua na expectativa de que Grey e Éric reaparecessem, mas meus tênis pareciam feitos de carvão: quentes e dolorosos. Não me surpreenderia se houvesse sangue entre meus dedos.

— Ele falou alguma coisa antes de ir? – indagou a artista, se referindo a Éric.

— Disse que recebeu a ligação de um amigo. Aparentemente, o cara estava no trabalho quando apareceu um garoto xingando Éric. Então, o nosso amigo gênio me falou que iria consertar tudo e decidiu ir até lá. Sozinho. Sem nem ao menos me dizer para onde estava indo. – Fechei os olhos e respirei fundo. – Entendeu o porquê precisamos de um milagre?

Como líder, eu era uma excelente cantora. Perdi dois membros do grupo em menos de 24 horas. E para piorar a situação, o stalker não era um amador. Com certeza estava nos vigiando e provavelmente sabia aonde os meninos tinham ido. Talvez estivesse naquele momento os observando, escondido na multidão...

Mas não era só isso que ocupava meus pensamentos. A terceira carta de Danielle tinha caído sobre nós como uma bomba atômica.

Lembro que certa vez, quando éramos mais novas, estava na casa de Danielle quando escutei um tiro.

— É a Carol – disse ela, tão tranquila quanto se aquilo fosse parte de sua rotina.

Corri até a janela e vi seu pai na calçada, com uma arma apontada para o céu. Toda a família estava em volta, mas aparentemente o tiro tinha sido dado para silenciar uma discussão entre sua mãe e o tio.

Depois daquele dia, pensei que Danielle me contasse tudo. Mas eu nunca soube do pacto de morte que Kai Martins fez. Ele quis morrer, mas agora estava vivo e bem, morando na Alemanha. Danielle sempre foi cheia de vida, e hoje estava enterrada.

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora