16. Grey

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Paige segurou o celular diante de seu rosto, fez uma careta, e tirou uma foto. Depois de analisar o resultado e decidir que estava bonita o suficiente, se jogou no sofá declarando:

— Vão lá me amar no Ixgram!

Agora que finalmente tínhamos dado uma pausa em nossa aventura, senti o cansaço de todo o dia fustigar meu corpo. Me acomodei na poltrona (amarela como o sofá) e descalcei os tênis com os pés, tão desajeitado e cansado quanto me sentia.

— Acho que não nos seguimos – comentei.

Paige digitou algo no celular.

— Pronto! Me aceitem aí – resolveu.

O perfil de Paige se dividia entre selfies e vídeos de suas manobras no skate. Em uma das postagens, a ruiva descia uma escadaria inteira apenas equilibrando o skate no corrimão (okay, isso foi bem impressionante). E a foto postada há um minuto já estava com algumas curtidas.

Éric saiu da cozinha segurando uma rosquinha repleta de granulados coloridos. Alguns estavam colados em sua boca, mas isso não parecia incomodá-lo.

— Peguei a última rosquinha! – avisou, ainda com a boca cheia. – Sobre o que era a conversa?

— Redes sociais. – Sadie caminhou até o sofá sem tirar os olhos de seu smartphone, quase como se tivesse o caminho gravado na memória. – Acabei de descobrir que Miguel é o famosinho do grupo. Cinco mil seguidores!

O loiro largou sua guitarra.

— Cidade pequena – justificou. – Todo mundo se conhece.

Éric sentou-se sobre o tapete, finalizando a rosquinha.

— Não tenho um Ixgram. Só serve para transformar as pessoas em zumbis – opinou.

— Mas todas as redes sociais não são assim? – argumentou Miguel.

— O Ix ganha nesse quesito – interveio Tessa. – Lembram como a galera da escola postava tudo que acontecia em suas vidas? Tipo, quem liga se Ashley Mores está no hospital? Aliás, por que ela postou uma foto sorrindo quando estava prestes a retirar o apêndice?!

— Tipo, "Estou morrendo, que legal!" – traduzi, arrancando uma risada da própria Tessa.

Paige brincava de enrolar a mecha roxa no dedo.

— Também não é assim! Eu gosto de postar vídeos meus fazendo manobras no skate – defendeu-se.

— Vídeos assim são interessantes – concordou Éric. – Mas não vamos nos enganar: quem está nas redes sociais, quer atenção. Queremos nos sentir populares, sociais e amados. Se não fosse assim, por que nos preocuparíamos tanto com quem tem mais ou menos seguidores?

— Com quantas curtidas tem uma foto – adicionou Sadie. – Quer dizer, quem nunca deixou para postar uma foto que gostou no melhor horário? Só para receber mais curtidas?

— Exato. Sem números, sem relevância. Essa é a regra do jogo – finalizou o nerd, cético.

Decididamente Danielle tinha números. Mesmo estando morta há um ano, seu Ixgram permanecia intacto, com a aba de seguidores fixa em quatro dígitos. O perfil era um perfeito retrato da vida de Danielle: fotos com as líderes de torcida, praticando yoga e meditação, eventuais postagens apoiando causas sociais além de fotos em posições aleatórias com versículos bíblicos na legenda.

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora