68. Grey e Éric

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Na minha cabeça, eu tinha uma lista de afazeres.

Um: encontrar uma arma.

Dois: fazer com que Kai fosse preso.

Três: comer a maior porção de batatinhas-fritas que encontrasse quando todo aquele pesadelo chegasse ao fim.

Poderia incluir o "Não morrer" como item quatro, mas realmente não precisava de um lembrete. Kai Martins tinha tentado me envenenar e havia ferido Éric. Naquele ponto, qualquer coisa que eu fizesse poderia ser considerado legítima defesa, mas machucá-lo seria uma consequência muito pequena para tudo que tinha feito.

Ainda havia muita coisa a ser dita, e ele com certeza não ia ser preso sem antes responder cada uma de minhas perguntas.

Ao meu lado, o capacete de um cavaleiro medieval se abriu sozinho. Um grunhido soou dali, como uma tentativa de assustar visitantes despreparados. Não deu certo comigo, mas tomei a espada das mãos da armadura.

Primeiro ponto da lista estava resolvido.

Alguns minutos depois e nenhum sinal do irmão sociopata de Danielle. Continuei avançando pelo ambiente, ignorando a maioria dos pequenos sustos que a casa tentava me pregar.

O Gênio era um quadrado de metal com uma vitrine na frente, nos permitindo ver o grande boneco de ventriloquismo que existia em seu interior. A proposta era: aperte um botão e o Gênio te dará um conselho assustador.

Encontrei o Gênio em um dos corredores. Aquele boneco era tão feio que realmente conseguiu me assustar, mas só até lembrar que aquilo era apenas um brinquedo feito para assustar crianças. Abaixei a espada e, por curiosidade, apertei o botão que solicitaria um conselho.

Enquanto esperava, tirei o celular do bolso e digitei uma mensagem para Sadie:

Traga a polícia para a casa assombrada. O stalker está aqui e feriu Éric!

"A mensagem não pôde ser enviada" foi o que apareceu.

Com o tilintar de um sino, um bilhete do tamanho de um cartão de visita foi expelido da máquina. Em seu verso dizia:

Se ainda não viu o que mais te assusta, é só olhar para trás.

Automaticamente, fiz o que me era aconselhado e tive a infeliz constatação de que o Gênio era muito, muito, bom em seus conselhos.

Um pouco atrás de mim, a figura de Kai se erguia tão tenebrosa quanto a de um espírito.

— Você não morre com facilidade, não é? – Ele não parecia tão contrariado assim com o fato de eu ainda estar vivo.

— Já você, mata sem o menor problema – retruquei, erguendo a espada. – Mas o que eu poderia esperar de um cara que afogou a própria irmã.

Na parede atrás de Kai, havia a falsa cabeça empalhada de um cervo. Do ângulo que eu via, os grandes chifres retorcidos pareciam sair diretamente da cabeça dele, e isso lhe deu uma aparência mais assustadora que engraçada.

— Não fale como se me conhecesse, Greyson Hayes.

— Eu conhecia o seu lado normal. Conhecia o garoto que estudou com a gente, que cuidava de Danielle, e que me acolheu. Era esse Kai que conhecia, e não um assassino! – gritei.

— Eu faria de tudo pela minha família – declarou com frieza.

Aquilo soou tão hipócrita que só consegui dar risada.

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora