23. Grey

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Este capitulo possui gatilhos e não tem a intenção de incentivar o leitor ao consumo de drogas.

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Luto. Essa palavra significa tristeza profunda pela morte de alguém. Sempre me perguntei por que não servia para quando a pessoa ainda estava viva. Eu com certeza sofri mais durante a perda gradativa de Danielle do que na morte em si.

Vaguei pelas ruas como um fantasma, sentindo meu coração sangrar assim como meu lábio. Provavelmente estava inchado e meus olhos avermelhados, denunciando o quanto chorei. Não sabia ao certo se chorava pela traição, pelas mentiras, por ter vivido uma ilusão durante anos ou pela soma de todas as merdas que aconteceram comigo em um dia só, mas todos esses motivos eram justos.

Como assim Kai era suicida? Eu sabia que sua experiência com a família biológica não tinha sido das melhores, mas o que tinha acontecido para que ele ficasse tão obcecado com o sucesso? Para que achasse que uma vida só valia a pena ser vivida se fosse de modo glorioso? E por que Danielle – que sempre prezou pela família – nunca disse nada aos pais?

Não espere muita coisa dela. Você obviamente não a conhecia, lembrou minha consciência.

Não sei por quanto tempo caminhei até chegar em uma praça. Meus pés pulsavam como um coração, então me sentei em um banco e respirei o mais profundo possível, tentando aliviar um peso que não sabia de onde vinha.

O mais impressionante era que desde que saí da biblioteca não houve um momento que meu celular não tivesse vibrado. Trinta chamadas não atendidas e claro que não iria retornar nenhuma – quem quisesse, poderia deixar uma mensagem cheia de ódio e repleta de xingamentos na minha caixa postal. Obrigado pela compreensão.

Tentei falar com Liam, mas ele não atendeu. E conhecendo meu melhor amigo, sua resposta poderia vir em cinco minutos ou três dias. Nunca dava para ter certeza com ele, e isso era bem ruim porque tudo que precisava era de um rosto conhecido e confiável para desabafar sobre o quanto eu odiava o mundo.

Me apaixonei pela imagem que construí de Danielle. As duas primeiras cartas tinham me feito duvidar dela, mas a terceira simplesmente a destruiu – apesar de que Danielle tinha tantas opiniões que às vezes parecia ser outra pessoa. Mas até então, eu achava que nenhuma versão dela poderia ser ruim...

Talvez Miguel estivesse certo quando disse que nem tudo na vida tem uma causa e efeito. Algumas merdas só acontecem e estão fora do nosso controle. Ser traído com certeza era uma delas.

O telefone tocou e o rosto sardento de meu amigo surgiu na tela.

— Liam! – atendi com pressa.

— Fala, Grey! Meu mano! Desculpa não ter atendido antes, mas você não vai acreditar na cilada em que me meti! – respondeu rindo, como quem estava prestes a contar a história mais engraçada do mundo.

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora