Este capitulo contem gatilhos
No último Natal que passei em Nova York, meus pais nos levaram ao parque.
As crianças corriam, saltavam e caíam sem o menor cuidado sobre o gelo. O lago congelado permanecia firme. Mas quando eu escorreguei – durante uma brincadeira com Garnett – e caí de costas, rachaduras serpentearam por baixo de mim e se expandiram como galhos de árvore.
— Greyson? – Meu irmão perguntou como quem quer avisar algo.
Até então, eu achava que estava tudo bem.
— Fica tranquilo. Não me machuquei...
O chão afundou. Todo meu corpo foi envolto por água, que penetrou em minhas roupas e as fizeram pesar como cimento. A água do inverno era tão fria que foi como se milhares de facas cortassem minha pele. O ar escapou dos meus pulmões em bolhas violentas, que subiam à superfície sem mim.
Tudo doía. Eu queria fazer algo, mas era inútil. Estava perdido naquela imensidão acinzentada.
Meu pai mergulhou na água e me resgatou. Com a ajuda de outros adultos, Omar conseguiu me erguer do gelo. Fiquei deitado na grama fria, tentando reaprender a respirar. Daquele momento em diante, foram só flashes: muita gente à minha volta, muitas perguntas, minha mãe desesperada, e o céu cinza de dezembro.
Ler a carta de Éric foi como voltar àquela lembrança. Como retornar ao lago congelado: tudo estava frio, cinzento e doloroso de novo. Havia pessoas a minha volta, mas se todas tivessem desaparecido eu não teria notado.
Estávamos em dois sofás da Biblioteca Central – cercados por muralhas de livros – e eu tinha feito questão me sentar de frente para Éric. Sadie leu o final da carta com incredulidade nítida na voz. Eu podia sentir os olhares sobre mim, aguardando uma reação durante aquele silêncio quase explosivo. Uma frase e tudo iria pelos ares.
Éric Vertes manteve o olhar baixo, incapaz de me encarar. Ele sempre foi uma figura tímida, mas agora parecia tão envergonhado que poderia desaparecer. Já devia imaginar que sua carta era sobre aquilo, sobre ter transado com minha namorada, e mesmo assim tentou ser "legal" me consolando no carro. Seu cinismo me fez querer vomitar de raiva.
Desde que chegamos senti que tinha algo de errado. Eu devia ter encurralado aquele filho da puta e o obrigado a falar.
Sem dizer nada, Éric se levantou e saiu, mas eu já tinha decidido que não iria lhe dar espaço novamente: pulei do sofá e o segui até o banheiro, mesmo com as pessoas gritando meu nome.
Empurrei a porta tão forte que ela acertou a parede. Éric apoiava as mãos na pia como se estivesse quase sem equilíbrio. Apesar do barulho que fiz, ele não olhou em minha direção.
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Decepção de verão
RomanceGreyson Hayes tinha tudo planejado: se formar no colégio, entrar para a faculdade, e pagar um aluguel razoavelmente barato no apartamento que dividiria com sua namorada. Porém, um câncer entrou no meio de seus planos. Um ano após a morte de Danielle...