47. Grey e Paige

96 26 39
                                    

Em nome de toda a família Atama e do resort Terra Dourada, gostaria de dizer que é uma honra receber os senhores na nossa festa! – declarou Hau com toda a alegria e espontaneidade de um empreendedor.

A mulher de pele negra como café – e hijab escondendo os cabelos cacheados – abriu um sorriso educado.

— Nós que agradecemos o convite – disse Melissa. Seu inglês possuía um forte sotaque africano.

— De fato, está tudo maravilhoso – elogiou meu pai, após experimentar uma garfada de sua refeição. – E claro, foi uma boa oportunidade para conhecer o lugar em que nossos filhos trabalham!

Após o convite de Hau para o jantar, todos os parentes acreditavam na mesma coisa: que havíamos encontrado empregos de verão, o que diminuiu suas desconfianças e receios. Afinal, adultos acham legal jovens que trabalham ao invés de se divertir.

— Sobre isso – disse Maria, mãe de Tessa –, que tipo de serviços os colocam para exercer? Sabem que Tessália tem direitos devido a sua deficiência, não sabem?

— Mãe! – reprovou a artista, sentada ao seu lado.

Maria parecia o tipo de mulher que gostava de ter tudo sob seu controle. Era baixinha e gorducha, com olhos negros flamejantes e postura decidida. Só a conhecia a cinco minutos, mas já podia reparar que sua personalidade era tão brava quanto a de um pinscher.

Perséfone se inclinou sobre a mesa, para poder vê-las melhor.

— Deficiência? – perguntou.

— Eu tenho Epilepsia, não deficiência! – destacou Tessa, encarando a mãe como em uma alfinetada.

— De qualquer forma, muito arriscado – decidiu Maria.

— Bom, posso assegurar que não oferecemos trabalhos complexos aos nossos funcionários recém-chegados. – Perséfone tinha um tom sério e calmo. Com ele, poderia convencer qualquer um de que pular de paraquedas sem o paraquedas, era uma boa ideia.

Hector, sem interromper sua refeição, despejou veneno na conversa:

— Que bom. Paige não consegue realizar tarefas que exijam muito do cérebro.

A ruiva soltou os talheres.

— Eu sou disléxica e não burra, seu brutamontes! – irritou-se.

Aquele cara era um babaca. Que tipo de pessoa arrumava problemas com Paige Cloud? Era quase como se diminuir ela o divertisse.

Como resposta de seu jeito inconveniente, recebeu um olhar mortal de Éric. O nerd parecia se controlar para não quebrar um prato na cabeça de Hector (e acho que ninguém iria tentar impedir).

— Paige aprendeu todas as falas de uma peça em 24 horas. E a apresentou de forma magistral – ele a defendeu.

— Magis o que? – O irmão postiço entortou a cara.

— Seu cérebro de ervilha não conhece essa palavra! – declarou Paige, fazendo até o garçom, que servia suco em nossa mesa, prender uma risada.

— Jovens, acalmem os ânimos – disse Homai, erguendo uma garrafa verde-escura na mão, como um troféu. – Discussões só depois do vinho!

— O vinho sempre é melhor depois da briga. Experiência própria – opinou Dominic.

Os garçons perambulavam pelo jardim servindo os hóspedes, que conversavam e riam alto. O humor estava ótimo àquela noite. Alice estava na mesma mesa que o casal idoso – Ernest e Margaret – conversando e gargalhando de algo que só eles sabiam. Não avistei Giles em lugar algum.

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora