45. Dominic

113 29 44
                                    

Um portal de flores brancas e amarelas era a entrada da festa. Ao atravessá-lo, parei para admirar as palmeiras decoradas, garçons bem-vestidos, sorrisos reluzentes e luzes ofuscantes que nos cercava. Detalhes de uma festa que estava só começando, mas que prometia muito.

Ainda que Hau e sua família tivessem um estilo "natureza e energias", suas comemorações eram as próprias festas grã-finas que cresci frequentando. Gente rica e álcool: minha zona de conforto.

— Parece que quem montou essa playlist é muito fã dos pops da década passada – observou Éric, à minha esquerda.

A voz de Lady Gaga embalava a noite, o que não tirava nem um pouco a elegância do evento.

— Será que eles têm batatinha? – indagou Grey, à minha direita.

Glitter prateado iluminava as laterais do rosto dele. O mesmo glitter que cobria as pálpebras de Éric e que estava de baixo dos meus olhos: um amontado de partículas brilhosas que se acumulavam no centro e ia se dissipando nas laterais.

— Finalmente estou no meu habitat natural – constatei satisfeito. – A festa!

— Levando em conta que não fui para muitas festas no ensino médio, não posso afirmar o mesmo – disse Éric.

— E o que você fazia para se divertir?

— Estudava...

Grey olhou de canto de olho.

— Estudar? Esse era o seu conceito de diversão?

— E o que você fazia? – rebateu Éric.

— Jogava videogame! Bom, depois de treinar e visitar Danielle no hospital – complementou de forma pouco entusiasmada.

Assobiei, perplexo.

— Okay, o ensino médio de vocês foi uma droga. Podemos recompensar isso hoje – prometi, enfiando a mão no bolso da bermuda. – Depois que eu fumar um cigarro.

Abri a cartela e vi que só tinha sobrado mais um. Às vezes, até eu perdia a noção da quantidade de nicotina que ingeria por dia.

Grey pegou o celular e digitou uma mensagem. Imaginei que era para Sadie.

— A quanto tempo você fuma? – perguntou ainda com o aparelho em mãos.

— Se não me engano – pesquei a informação do fundo de minhas lembranças –, desde os catorze anos.

Éric me encarou levemente chocado.

— Você fuma há cinco anos todos os dias? – indagou.

— Não me julgue – falei tirando o isqueiro do outro bolso.

— Cara, seus pulmões devem estar quase virando pó – apostou Grey.

É, aquele vicio já tinha rendido muitas brigas com minha mãe e inúmeras ameaças de me colocar no Narcóticos Anônimos. Não querendo ser maldoso, mas ouvir de uma alcoólatra que você tem problemas de vício não era algo muito convincente.

— Se isso acontecer, pago para trocarem eles por pulmões novos – respondi.

— Por favor, não me digam que a conversa foi para o assunto "tráfico de órgãos" – implorou Éric.

Seu drama era engraçado e me fez rir. Com o cigarro entre o dedo indicador e anelar, disse para eles encontrarem as meninas e então me afastei. Já bastava os meus pulmões estarem ferrados. Os deles não precisavam ficar também.

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora