14. Grey

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Quando crianças, Sadie e eu tínhamos um código secreto. O código era composto por duas simples palavras: batatinhas queimadas. Qualquer um que pronunciasse essas palavras, era como se estivesse emitindo um sinal de fumaça com a mensagem clara e inconfundível de que o outro precisava de ajuda.

Lembro que Sadie chegou a atirar uma pedra na janela da escola, para chamar a atenção de um professor que estava prestes a me dar uma bronca. Eu só tinha precisado desenhar batatas iguais às da Burguer King pegando fogo, e as mostrado pela janela como um pedido de socorro. Imediatamente, Sadie largou sua bicicleta no chão e catou a pedra mais próxima.

Essa divertida recordação me veio à mente quando entrei no Disco Bar. Vi um garçom carregando uma bandeja de hamburguers e senti vontade de comer batatinhas fritas – meu alimento ideal de todas as horas (e talvez a razão de meu corpo não ser tão definido quanto o de outros atletas).

O piso da lanchonete era quadriculado, preto e branco, seguindo a moda dos anos setenta. As paredes eram cobertas com propagandas de filmes e jogos antigos, cuja maioria dos jovens que iam ali nem deviam conhecer. Os clientes se sentavam em sofás vermelhos chamativos, combinando com os uniformes dos garçons.

O Disco Bar tinha uma pista de dança separada da área de alimentação. Pista essa que sempre brilhava com luzes coloridas, graças a um nada discreto globo. Ele girava ao som de uma lista de músicas eletrônicas.

Caminhei pelo corredor principal, mas não tive sinal de Sadie. Meio cansado de andar sem rumo, encostei no balcão e usei minhas últimas economias para pedir uma cesta de batatas. Um minuto depois, estava com as minhas batatinhas, um saleiro de mesa, e um frasco de ketchup.

Como atleta, deveria tentar manter a alimentação saudável, mas depois do dia de cão que tive, eu merecia! Os próximos minutos poderiam ter sido incríveis se alguém não tivesse me interrompido.

— Greyson Hayes?

Parei com uma batata a caminho da boca. Virei o rosto e me deparei com um garoto sentado a dois bancos de distância, com uma vitamina em mãos (quem vai em uma lanchonete e pede vitamina?!). Vasculhei na minha memória, mas não consegui identifica-lo de lugar nenhum.

— Hã...Oi? – respondi mais por educação.

— Caralho. Não te vejo há anos! Se bem que você não mudou muita coisa. Continua o mesmo moleque magricela!

Magricela?

Bom, talvez para os padrões daquele cara, que tinha o porte de um lutador de MMA. Parecia alguém que ia à academia religiosamente, e que só comia marmitas fitness.

— Valeu. Eu acho – murmurei, achando aquela conversa muito estranha. – Foi mal, mas não lembro quando...

O garoto deu um gole barulhento em sua bebida antes de esclarecer:

— A última vez que te vi foi numa competição de natação!

Ah, então era isso. Ou ele era da escola, ou tinha competido comigo na natação. Sabia que seu rosto era familiar.

Mordisquei a batatinha, já mais relaxado.

— Desculpe não lembrar de você. Minha memória não é das melhores e eu ando bastante ocupado. Sabe como é – expliquei.

O rapaz assentiu com a cabeça antes de falar:

— Ah, mas você lembra de mim! Fui eu que deixei essa recordação no seu nariz...

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora