De repente, estava de volta ao lago congelado. O mesmo que caí durante o inverno nova iorquino, quando Garnett e eu brincávamos no gelo. O sentimento de solidão era o mesmo e minhas mãos estavam dormentes, como se tivesse as mergulhado na neve por tempo demais.
Mas não havia lago. Eu estava em Pacific Sea, no verão, de frente para a casa assombrada. Era um casarão feito para parecer velho – tão velho que todos os moradores teriam morrido há vários anos – e assustadoramente inabitável: calhas partidas, algumas janelas cobertas com tábuas, a tinta verde com que a estrutura foi coberta estava desbotada, e havia uma placa com os dizeres "Casa assombrada" no telhado.
Meu coração parecia que ia sair pela boca. Estava com medo dos próximos minutos, mas ao mesmo tempo sabia que precisava enfrentá-los. Olhei para a faixa amarelo fosforescente que impedia a entrada e passei por baixo, seguindo em direção à porta.
— Não tem ninguém aqui, Grey. Não tem por que ter medo – sussurrei.
A frente era coberta com grama artificial, onde algumas lápides falsas haviam sido colocadas. Havia montes de feno espalhados, como se um fazendeiro mal-humorado os tivesse largado ali. Mas para mim, os espantalhos com cabeças de abóboras eram o suficiente para manter qualquer um afastado.
Como era de se esperar, a porta da frente estava trancada. Porém, uma das janelas na lateral era aberta, então precisei desrespeitar um dos falsos mortos usando sua lápide de apoio. Mas o espírito dele deve ter se vingado, porque caí de cara no chão assim que passei pela janela.
— Merda – praguejei, esfregando a testa.
Tinha caído em um escritório. Em frente a escrivaninha, havia um esqueleto que provavelmente teria gritado ou feito qualquer som assustador se a casa estivesse ligada. Me coloquei de pé e fui em direção ao corredor, onde precisei pular uma falsa mancha de sangue.
O corredor escuro tinha teias e aranhas espalhadas por todo canto, e ao final se abria para uma espécie de sala de estar, onde ocorria um funeral. Bonecos vestidos com roupas antigas espalhavam-se pelo ambiente, encenando o luto pela morte de alguém. No centro da sala, estava o caixão coberto de flores.
— Tomara que isso não seja um sinal... – resmunguei, passando por detrás de uma mulher vestida de preto.
O ranger de uma tábua fez meu coração querer sair pela bunda. Olhei em volta, mas só havia bonecos. Me aproximei de uma mesa e segurei um castiçal. Não era exatamente uma faca, mas era o que tinha à minha disposição.
O silêncio fluiu por alguns instantes até que, das cortinas, algo pulou para fora. Minha primeira reação foi gritar e desferir um golpe com o castiçal, que tilintou ao acertar a cabeça do desconhecido.
— Mas que porra foi essa? – questionou o garoto de casaco de flanela, agora, de joelhos no chão.
— Éric? – Deixei o castiçal cair. – Mas o que você está fazendo aqui?
O nerd se ergueu, esfregando a cabeça com dificuldade.
— Acho que nós dois tivemos o mesmo raciocínio de onde a carta podia estar.
— E por que veio sozinho? – indaguei.
— Achei que seria mais seguro. É a sua carta, então o palhaço deve estar de olho em você. – Okay, aquilo fazia sentido.
Olhei para o boneco que segurava uma rosa.
— Acha que...o palhaço pode ter me seguido?
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Decepção de verão
RomanceGreyson Hayes tinha tudo planejado: se formar no colégio, entrar para a faculdade, e pagar um aluguel razoavelmente barato no apartamento que dividiria com sua namorada. Porém, um câncer entrou no meio de seus planos. Um ano após a morte de Danielle...